Nos últimos anos, muito se discutiu sobre o papel das redes sociais e sua importância no bolsonarismo, como um dos vetores para manter sua militância engajada. O Facebook é uma das principais redes para os apoiadores do atual presidente, na qual o movimento tem inúmeras páginas com altos números de seguidores, interações e visualizações que permitem alcançar muitos brasileiros com seus vídeos e mensagens. 

Outro fato importante para Bolsonaro é o feriado da independência. O 7 de Setembro é um dos eventos mais comemorados, sendo utilizado pelos apoiadores do atual presidente como marco para realizar atos em favor do atual governo e também para fortalecer suas narrativas nas redes. Pensando nesses dois pontos, realizamos, no Observatório das Eleições, uma análise das postagens sobre o 7 de Setembro no Facebook para descobrir como a data foi citada nas redes e, principalmente, como os apoiadores de Bolsonaro utilizaram a data para engajar o público das redes sociais.

Analisamos a cobertura em três dias: o dia anterior, 6 de setembro, que nos possibilitou analisar se houve alguma convocação específica para atrair a participação das pessoas; o dia dos atos, 7 de setembro, para avaliar a cobertura dos atos ao vivo; e o dia seguinte, 8 de setembro, para analisar como eles aproveitaram os atos e construíram narrativas a partir deles. Utilizamos os dados de 2021 para comparar com os de agora (2022) e avaliar se houve sucesso ou não do bolsonarismo na cooptação do 7 de setembro nas redes.

 

Em 2021, o dia da Independência, no Facebook, apresentou dois momentos muito bem definidos. Antes do dia 7 de setembro, no dia 6, as páginas com maior número de interações e visualizações estavam equilibradas entre páginas de apoiadores de Bolsonaro e de Lula. A narrativa que dominava era a mesma: a decisão de Lula de não ir aos atos e sua mensagem para o país em comemoração ao dia. Os apoiadores do petista reproduziram sua mensagem ao povo brasileiro em suas páginas; por sua vez, o bolsonarismo alegava que a decisão de Lula refletia seu “medo de passar vergonha” nos atos e conseguiu, com essa narrativa, a publicação com o maior número de visualizações do dia, mais de 2,5 milhões.

 

A partir do dia 7 de setembro do ano passado, no entanto, não houve mais essa divisão entre os dois polos, e o bolsonarismo foi quem dominou os números e a narrativa. As participações de Bolsonaro nos atos cívicos de São Paulo e de Brasília dominaram a lista de publicações mais vistas do dia, embora não tenham emplacado a primeira posição, que reproduziu o hino nacional e teve mais de 10 milhões de visualizações. Na sequência das publicações mais vistas, temos seis publicações que reproduziram o mesmo vídeo da página de Jair Bolsonaro com sua participação no desfile de Brasília, e todas as seis com mais de 8,3 milhões de visualizações.

 

O dia 8 de setembro repetiu esse sistema. O campo bolsonarista publicizou diversos cortes de atos e falas de Bolsonaro no dia 7, sempre transmitindo uma imagem de sucesso dos atos. O vídeo dos atos do dia anterior com maior número de visualizações é o anúncio de Bolsonaro na Avenida Paulista feita por um locutor de rodeios, com 4,8 milhões de visualizações. Ao analisarmos as páginas com maior número de visualizações do dia, as duas primeiras, que somam juntas 26 milhões de visualizações, somente publicam vídeos das manifestações na perspectiva bolsonarista. Dessa forma, podemos perceber que a data foi bem utilizada pelos apoiadores do atual presidente para dominar a narrativa das redes.

 

A partir dessa percepção sobre os atos de 2021, propusemos analisar as postagens dos mesmos três dias de 2022. Se, no ano anterior, a esquerda conseguira competir e aparecer entre as páginas com maior número de visualizações no dia 6, em 2022, os fatos foram diferentes. No dia 6, a direita bolsonarista dominou. O topo dos rankings de páginas com mais visualizações e interações deste ano foi dominado por páginas que reproduziram a visão bolsonarista ou uma perspectiva conservadora que se associa à do presidente, mesmo que não se admita oficialmente como tal. Mesmo com essa primeira vitória, os dados não se apresentaram tão bons quanto os do ano anterior: enquanto que, no ano passado, as publicações sobre a Independência no dia 6 renderam quase 4 milhões de interações, este ano foram apenas 2,2 milhões de interações. 

 

Nos dia das comemorações do bicentenário da Independência e no dia seguinte (7 e 8 de setembro, respectivamente), o bolsonarismo continuou a dominar os rankings totais de visualizações e interações. As postagens mais vistas se associavam diretamente à narrativa bolsonarista, porém, a um aspecto patriótico que era capaz de atrair a atenção do público. Entretanto, os números foram inferiores: a publicação no dia do bicentenário com o discurso de Bolsonaro alcançou apenas 1,5 milhão de visualizações, muito diferente dos números do ano anterior. Também notamos uma queda de interações entre os dois dias da Independência: no 7 de setembro de 2021, houve 12 milhões de interações, enquanto que em 2022 foram 10 milhões. Já no dia 8 de setembro, nova queda: de 2,5 milhões em 2021 para 1,3 milhão neste ano.

 

Em suma, houve uma diminuição no número de interações com publicações sobre a Independência em comparação ao ano anterior em todo o Facebook, mas principalmente entre os apoiadores do presidente, grupo que mais utiliza a data e seus símbolos para divulgar suas ideias.

 

Apesar de o domínio bolsonarista nas redes ainda persistir, os dados da comparação demonstraram que, de 2021 para 2022, o movimento em apoio ao atual presidente perdeu capacidade de conseguir atrair o interesse do público mesmo quando a agenda lhe era favorável. Se considerarmos as diversas denúncias do uso de robôs por parte dos apoiadores de Bolsonaro para inflar os dados das publicações e gerar mais engajamento, a queda nos números torna-se ainda mais evidente.

 

Não é exagero afirmar a perda de força do movimento bolsonarista, embora ele ainda seja muito forte e relevante nas redes sociais. No entanto, mesmo em um momento aguardado, com uma agenda que o favorecia, o bolsonarismo demonstrou que, embora atuante, não tem a mesma potência de antes. 

 

Eduardo Barbabela: Doutor e Mestre em Ciência Política pelo IESP UERJ. Atualmente é pesquisador do Manchetômetro (LEMEP IESP-UERJ) e do INCT/IDDC. Realiza pesquisas nos campos de representação política, comunicação política, teoria democrática, liberdade de expressão e comportamento político.