Artigo: mesmo com as redes, por que a TV ainda importa para as eleições

Artigo: mesmo com as redes, por que a TV ainda importa para as eleições

Análise feita com pesquisas desde 2014 discute o que dizem os brasileiros sobre a formação do próprio voto

Valéria Cabrera e Fabíola Brigante Del Porto* 

Publicado no Pulso

Na semana em que os candidatos à presidência foram ao Jornal Nacional e a campanha eleitoral começou na televisão, a manutenção da relevância desse meio de comunicação para as eleições volta ao debate público. Frente ao uso cada vez mais intenso das redes sociais pelos brasileiros e a inserção crescente de assuntos relacionados à política no mundo digital, sobretudo após o presidente Jair Bolsonaro vencer as eleições de 2018 com apenas oito segundos de propaganda televisiva. Tendo esse contexto em mente, analisamos dados de opinião pública sobre as ações mais utilizadas para decidir o voto e sobre o principal meio de informação política no Brasil.

2 de 3 Decisão de voto e ações mais importantes — Foto: Eseb-Cesop

Decisão de voto e ações mais importantes — Foto: Eseb-Cesop

Quando o assunto é a decisão do voto, dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), conduzido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp) logo após as eleições gerais, mostram que acompanhar os debates entre candidatos na televisão foi a ação considerada mais importante pelos brasileiros nas eleições presidenciais de 2014 e de 2018. Ao analisarmos os dados de maneira comparada, vemos, no entanto, que essa ação teve maior impacto na eleição de 2014, quando 32% dos entrevistados disseram considerá-la a mais importante para compor a escolha eleitoral. Em 2018, 22% optaram por essa resposta, indicando a diminuição da relevância dos debates televisionados entre uma eleição e outra. Isso pode ter ocorrido em razão de o candidato Jair Bolsonaro, que estava bem colocado nas pesquisas eleitorais, não ter comparecido à maioria dos debates naquele ano.

Nos dois pleitos, em segundo lugar, um em cada cinco eleitores apontavam que conversas com amigos e familiares eram o meio mais importante para decidir o voto. Entre as mulheres, pessoas com mais de 50 anos e com escolaridade até o ensino médio incompleto, as conversas com amigos e familiares foram tão importantes quanto acompanhar os debates entre os candidatos na televisão. Na região Sul do país, conversar com os amigos e familiares foi ainda mais significativo do que os debates para a escolha eleitoral.

Ao mesmo tempo, houve aumento na menção às notícias de candidatos nas redes sociais. Em 2014, quando redes como Facebook, Twitter e Instagram eram menos difundidas no Brasil, apenas 2% dos entrevistados afirmaram que acompanhar notícias sobre os candidatos por esse meio era a ação mais importante para escolher em quem votar. O número passou para 9% em 2018, revelando o aumento da importância das redes sociais na decisão do voto, sobretudo entre os mais jovens e aqueles com maior escolaridade.

Análise: Tensos, Lula e Bolsonaro não venceram

Enquanto isso, meios tradicionais, como as notícias sobre os candidatos na televisão, foram opção de 11% dos respondentes em 2014 e de 9% em 2018. Quatro anos atrás, pessoas com mais de 50 anos, com menor escolaridade formal e habitantes da região Sul foram os que mais mencionaram que as notícias na televisão eram a ação mais importante para a escolha eleitoral.

 

Dados temporais atualizados da pesquisa “A cara da democracia”, organizada pelo Instituto da Democracia (INCT-IDDC), revelam que as notícias da televisão são, ainda, o principal meio de informação sobre política dos brasileiros. Em 2022, esse meio foi citado por 38% dos entrevistados. É verdade, no entanto, que esse percentual vem caindo desde 2018, quando mais da metade dos entrevistados apontavam ter os noticiários da TV como principal fonte de informação sobre política. Segundo os dados de 2022, mulheres, pessoas com menor nível de escolaridade e com mais de 50 anos se informam mais sobre política pelos noticiários na televisão.

 

Os minutos preciosos

Na mesma pesquisa, as redes sociais foram o segundo meio mais citado de informação sobre política em todos os anos em que a pesquisa foi realizada. Entretanto, em sentido inverso às notícias da TV, os percentuais desse meio de informação vêm subindo desde 2018. Em 2022, o uso das redes sociais para esse fim aumenta quanto menor é a faixa etária do respondente, sendo que, entre aqueles com até 30 anos, as mídias sociais são mais importantes do que os noticiários da TV. Além disso, o uso das redes sociais para se informar sobre política cresce com a elevação do nível de escolaridade do entrevistado e, entre aqueles com ensino superior, as redes sociais são tão expressivas quanto os noticiários televisivos.

Assim, embora os debates entre candidatos na televisão tenham perdido relevância, os dados indicam que ainda são fundamentais para a escolha eleitoral. Além disso, apesar de os entrevistados terem passado a acompanhar mais notícias sobre política pelas redes sociais para decidir o voto entre 2014 e 2018, o percentual de uso da propaganda eleitoral para esse fim também cresceu, enquanto acompanhar notícias na televisão manteve estabilidade. Em 2022, os noticiários da TV são ainda as principais fontes de informação sobre política no Brasil, sugerindo que os minutos televisivos serão preciosos para os candidatos na eleição que se aproxima.

*Valéria Cabrera é pós-doutoranda no Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp.

Fabíola Brigante Del Porto é pesquisadora no Cesop-Unicamp.

 

O número de indecisos para eleição presidencial é o menor já registrado.  O que está por trás disso?

O número de indecisos para eleição presidencial é o menor já registrado. O que está por trás disso?

Em 2014, última vez em que houve uma candidatura pela reeleição, nível de indecisão era mais do que o dobro de hoje

Otávio Z. Catelano*

Petra Pinheiro e Silva**

Publicado no Pulso

O baixo número de indecisos nas eleições presidenciais deste ano é um dado que tem pautado discussões de especialistas e da mídia a cada divulgação de pesquisas de intenção de voto. Em 2014, o último ano em que houve uma candidatura em busca da reeleição, o número de indecisos no mês de agosto girava em torno de 49%, enquanto em 2022, a porcentagem é de 22% no mesmo período.

 

Essa diferença pode ter algumas explicações. Uma delas é o fato de que essa é a primeira corrida eleitoral em que há mais de um candidato que já foi presidente, possibilitando que o eleitorado faça uma comparação de resultados entre os governos. Além disso, há uma grande polarização entre os dois principais concorrentes. Segundo a última pesquisa Datafolha (feita entre 16 e 18 de agosto), Lula, que já governou entre 2003 e 2010, lidera a disputa com 47% das intenções de voto. Por sua vez, Bolsonaro, que concorre à reeleição, está em segundo lugar com 32%. De acordo com a mesma pesquisa, 75% dos eleitores afirmam estar totalmente decididos sobre em quem votar.

Para entender melhor a conjuntura atual, analisamos as pesquisas feitas desde 1989 pelo Instituto Datafolha (disponíveis no Banco de Dados do Cesop-Unicamp) levando em conta o “número de meses antes da eleição”. Isso se deve ao fato de que as datas das campanhas desde o reinício das eleições diretas variaram.

2 de 3 O percentual dos indecisos em eleições presidenciais em perguntas espontâneas — Foto: Banco de Dados do Cesop-Unicamp


O percentual dos indecisos em eleições presidenciais em perguntas espontâneas — Foto: Banco de Dados do Cesop-Unicamp

Nas perguntas espontâneas sobre a intenção de voto para a presidência, o entrevistador não oferece opções ao entrevistado. Assim, a resposta “não sabe/indeciso” depende exclusivamente da memória de quem é perguntado, demonstrando mais claramente que a pessoa ainda não tomou sua decisão com toda certeza.

Com isso em consideração, pode-se observar que, em 2022, temos o menor número de indecisos: foram 25% em julho e 22% em agosto. Além disso, esse número tende a cair com o início da campanha, da mesma maneira que em eleições anteriores.

Já em perguntas estimuladas, o entrevistador apresenta opções de candidatos, fazendo com que o número de indecisos seja ainda menor — o que pode ser visto no gráfico abaixo:

3 de 3 Os que não souberam responder mesmo após receberem uma lista com os nomes dos candidatos — Foto: Banco de dados do Cesop-Unicamp


Os que não souberam responder mesmo após receberem uma lista com os nomes dos candidatos — Foto: Banco de dados do Cesop-Unicamp

Os dados de 2022 seguem sendo os mais baixos já registrados, ainda que seguidos de perto pelos dados de 2002 e 2018. Nesses casos, a competitividade pode ser um fator de explicação. Em 2002, a essa altura, as eleições eram bastante competitivas, com quatro candidatos (Lula, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes) obtendo boas pontuações. O mesmo se deu em 2018, com boas pontuações de seis candidatos: Lula, Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Alvaro Dias.

Sendo assim, o cenário de 2022 possui uma peculiaridade: é mais estável do que os anteriores. Isso pode ser uma boa notícia para o líder das pesquisas, pois Lula obtém hoje intenções de voto suficientes para ser eleito no primeiro turno. Mas também pode ser um alento para Bolsonaro, pois sua posição não está ameaçada pelos outros candidatos, o que significa que, em caso de segundo turno, sua participação aparentemente está garantida.

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).

**Petra Pinheiro e Silva é bacharela em Ciências Sociais Unicamp e pesquisadora do Cesop.

Pesquisas mostram que Bolsonaro ainda está longe dos resultados que obteve no 1º turno de 2018

Pesquisas mostram que Bolsonaro ainda está longe dos resultados que obteve no 1º turno de 2018

Oswaldo Amaral

Publicado no Pulso

A eleição de 2018 ficou longe de ser um evento comum. O país vinha de um processo de impeachment e o presidente Michel Temer (MDB) tinha uma popularidade muito baixa. Lula (PT), que liderava as pesquisas de intenção de voto, foi preso e impedido de concorrer, sendo substituído por Fernando Haddad (PT) pouco antes do primeiro turno. Jair Bolsonaro (PL) sofreu um atentado em Juiz de Fora (MG) e passou as últimas semanas antes do primeiro turno se recuperando e não participou de embates públicos com os outros candidatos. Tudo isso em meio a uma forte crise econômica, escândalos de corrupção e os efeitos políticos e policiais da Operação Lava-Jato, como a divulgação da delação de Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno, pelo ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro Sergio Moro.

Como muitos analistas vêm apontando, em 2022 o cenário é outro. O atual presidente é candidato à reeleição e seu principal adversário é novamente Lula, agora com as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e com os direitos políticos reconquistados.

Ambos são conhecidos da totalidade dos eleitores e têm passados que podem servir de baliza para a decisão do voto. Mais do que isso, o atual governo será julgado pelo que entregou nos últimos quatro anos. É exatamente aí que está o problema de Bolsonaro e de sua campanha para ficar mais uma temporada no Palácio do Planalto.

Em que pese a melhora da economia nos últimos meses, o saldo para o governo é ruim. Inflação nas alturas e aumento da fome e da miséria no país estão presentes no dia a dia da população. Para além disso, há um deserto de realizações entre as políticas públicas que têm algum peso na decisão do eleitor, como saúde e educação.

É isso que explica a dificuldade do presidente em subir nas pesquisas de forma acelerada e a queda generalizada nas intenções de voto quando comparamos os dados de 2018 com os recentemente divulgados pelo Ipec nesta segunda-feira (dia 15) e Datafolha nesta quinta.

Os dados do Ipec e os obtidos pelo Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb) de 2018, pesquisa nacional realizada logo após o pleito pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, mostram o tamanho do desgaste do atual presidente no eleitorado.

Em nenhum dos estratos observados Jair Bolsonaro supera as porcentagens de votos que obteve no primeiro turno quatro anos atrás. Entre os que cursaram o ensino fundamental, a queda é de 13 pontos percentuais, entre os homens, de 12, e entre negros e brancos, de 11. Regionalmente, em comparação com o resultado final das eleições, as perdas são de 15 pontos percentuais no Sudeste e de 14, no Sul.

De maneira inversa, Lula ganha votos em todos os estratos em comparação com o que obteve Haddad em 2018, em porcentagens maiores do que as perdas do atual presidente, refletindo a menor fragmentação na disputa eleitoral deste ano (veja todos os dados nos gráficos abaixo).

2 de 3 Votos em Bolsonaro declarados em 2018 e as intenções expostas na pesquisa Ipec — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022

Votos em Bolsonaro declarados em 2018 e as intenções expostas na pesquisa Ipec — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022

 

3 de 3 Votos declarados em Haddad em 2018 e intenção de votos em Lula no Ipec desta semana — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022

Votos declarados em Haddad em 2018 e intenção de votos em Lula no Ipec desta semana — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022

 

Há espaço para as intenções de voto no presidente aumentarem? Sim, há. Bolsonaro está abaixo do que obteve entre os evangélicos quatro anos atrás, vem ampliando a campanha para esse segmento do eleitorado e ainda temos cerca de 7% de indecisos. No entanto, parece pouco provável que o presidente chegue próximo ao desempenho que obteve no primeiro turno de 2018. Para isso, a percepção de melhora na situação econômica e nas expectativas de um eventual segundo mandato precisam ser muito rápidas. Concentrar a campanha nas pautas de costumes e demonizar o adversário não devem ser estratégias suficientes.

 

Uso de redes sociais pode explicar sentimentos de ódio contra Lula ou Bolsonaro

Otávio Z. Catelano*

O efeito dos algoritmos das redes sociais sobre as fontes de informações das pessoas tem virado tema de debates, livros e documentários. Muitos deles apontam que os algoritmos têm uma parcela de culpa no sucesso de candidatos radicais e na erosão das democracias. O ativista Eli Pariser argumenta que usuários de redes sociais vivem sob o efeito de bolha dos filtros, ou seja, os algoritmos trabalham para “entregar” a cada usuário somente as informações que costumam agradar seus pontos de vista.

Isso pode aumentar radicalismos, uma vez que o indivíduo só tem contato com conteúdos que reforçam suas opiniões. A pesquisa nacional A Cara da Democracia, realizada em junho de 2022, pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), demonstra isso: a porcentagem de pessoas que dizem sentir ódio pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ou pelo ex-presidente Lula (PT) varia de acordo com as redes sociais mais utilizadas pelos indivíduos. Em relação ao total, cerca de 21,2% do eleitorado brasileiro disseram sentir ódio por Bolsonaro, enquanto apenas 6,9% afirmaram o mesmo sobre Lula. Entretanto, essas porcentagens mudam quando se observa separadamente os públicos de cada rede social.

Quando perguntados sobre qual a rede social mais utilizada para se informar sobre política, o Facebook é disparadamente a rede mais escolhida pelos brasileiros, sendo mencionada por 32,6% dos entrevistados. Em seguida vem o Instagram, sendo a escolha de 15,7% dos eleitores; o Youtube, por 11,9%; o WhatsApp, por 10%; o Twitter, por 2,8%; e em último lugar, o TikTok, por 1,1%. Outras redes foram citadas por 2% dos respondentes, enquanto 21% disseram não usar redes sociais.

Fonte: Pesquisa A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95%

Fonte: pesquisa nacional A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95%

Embora os eleitores que prefiram se informar pelo TikTok representem um grupo pequeno, entre eles há um número maior de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro ou por Lula do que em relação à sociedade. Parte da explicação pode se dever à forte atuação do algoritmo na dinâmica do aplicativo. O Instagram, que procura cada vez mais se aproximar da interface e do funcionamento do TikTok para concorrer com o aplicativo, parece ser um problema para Bolsonaro e um alívio para Lula. Entre as pessoas que priorizam o Instagram para encontrar informações sobre política, há uma proporção maior de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro do que no restante da sociedade; por outro lado, para Lula, o número é menor (ainda que dentro da margem de erro).

Essa leitura se inverte quando observamos os eleitores que utilizam preferencialmente o Facebook e o WhatsApp. Entre eles, há uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro, enquanto esse público tende a reunir mais pessoas que odeiam Lula, quando os dados são comparados com o total (também dentro da margem de erro). O Twitter, por outro lado, é uma plataforma que reúne uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Lula ou Bolsonaro.

Desses dados, pode-se realizar pelo menos duas leituras. A primeira – e que mais salta aos olhos – é a força que Lula e Bolsonaro têm em cada plataforma. Ainda que Lula seja odiado por uma porcentagem 3 vezes menor de brasileiros do que Bolsonaro, o atual presidente aparenta possuir mais força nas plataformas que concentram um número maior de usuários (em termos de procura por informação política). Isso pode indicar como o enfrentamento eleitoral entre os dois líderes das pesquisas poderá ocorrer no terreno digital.

Outra leitura é a diferença da atuação dos algoritmos de cada plataforma. O que o TikTok e o Twitter têm de tão diferente? Por que entre os usuários de TikTok há proporções maiores de pessoas que odeiam Bolsonaro e/ou Lula? E por que isso se inverte quando se observa o conjunto de pessoas que prefere se informar politicamente pelo Twitter? Ainda que sejam as duas plataformas menos optadas pelos brasileiros em geral, é importante que essa diferença seja acompanhada de perto, pois ela pode revelar muito sobre a atual situação política do país.

 

*Otávio Z. Catelano é Doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).

A fragilidade do nosso apoio à democracia

A fragilidade do nosso apoio à democracia

Fabíola Brigante Del Porto *
Publicado no Mídia Nínja 

Eleições são o momento em que os cidadãos têm a oportunidade de pensar o que querem para suas vidas e para o país. Até 2014, na realização de eleições presidenciais pós-ditadura, nunca nos preocupamos com o quão democráticos eram os principais candidatos e seus “lados”. Isso era um pressuposto da disputa eleitoral de uma democracia que se consolidava e deixava o passado autoritário para trás. Desde a posse do presidente Bolsonaro, em 2019, a defesa da democracia foi voltando à cena e, agora, com a largada oficial da disputa eleitoral de 2022, ela ocupa o centro do nosso debate.

Não se pode dizer que as tendências autoritárias do então candidato fossem ignoradas em 2018: conforme pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha pouco antes do segundo turno, 75% dos eleitores identificavam Bolsonaro como o mais autoritário dentre os dois candidatos. Também não se pode dizer que a sociedade brasileira não apoiava a democracia: de acordo com o Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), pesquisa realizada imediatamente após a eleição presidencial pelo Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (CESOP/UNICAMP), quase 70% dos eleitores brasileiros escolheram a democracia como melhor forma de governo contra apenas 15% que disseram que uma ditadura poderia ser melhor “em algumas circunstâncias”, 5% que afirmaram que tanto fazia o regime e, 10%, que não souberam responder. 

Gráfico 1 – Preferência por regimes políticos (%)

Brasil – 2018

        Fonte: ESEB, 2018. 

 

Como nesse cenário majoritariamente democrático, o ex-capitão defensor da ditadura militar brasileira pôde ser eleito presidente? O ESEB nos dá uma pista através de uma segunda pergunta sobre o apoio à democracia: quando perguntados sobre o grau de concordância com a frase “A democracia tem problemas, mas é o menos pior de todos os regimes”, o apoio à democracia caía para pouco mais de 50%. Sem o estímulo à lembrança da ditadura, a convicção sobre a superioridade da democracia pelos brasileiros diminuía.

Gráfico 2 – “A democracia tem problemas, mas é o menos pior de todos os regimes” (%)

Brasil – 2018

Fonte: ESEB, 2018. 

 

Mas isso ainda não é tudo. Segundo o artigo de Mark Setzler, publicado na Brazilian Political Science Review (2021), embora os eleitores do presidente Bolsonaro partilhassem, em 2018, com o então candidato, o menor apreço pela democracia, essa questão teve um peso menor na decisão eleitoral dos brasileiros em comparação à ideologia e ao partidarismo, sobretudo em relação ao chamado antipetismo. Ou seja, no cenário de elevada polarização política em que nos encontrávamos (e ainda nos encontramos), o posicionamento dos candidatos em relação à democracia foi tratado como uma questão de menor importância, ou mesmo superada, pelos eleitores.

Enquanto o jogo eleitoral opôs lados adversários e não inimigos e, mesmo em contextos de crise, o regime democrático não era questionado, consideramos a consolidação da democracia brasileira como algo acabado. Em 2018, Bolsonaro foi eleito mesmo com sua aberta exaltação da ditadura militar brasileira. Sua eleição foi possível, entre outras coisas, pelo nosso ainda frágil apoio à democracia como um valor em si. Mas, com os olhos voltados para outubro próximo, sua vitória em 2018 também contribuiu para nos relembrar de que, na decisão eleitoral, a defesa da democracia não pode ser tomada como uma questão menor.

 

* Pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) da UNICAMP

O que você encontra na editoria de Opinião Pública?

O que você encontra na editoria de Opinião Pública?

 

A editoria de Opinião Pública do Observatório das Eleições 2022 está sediada no Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 

Nesse canal, vamos analisar dados de opinião pública recentes, como pesquisas eleitorais, e séries históricas relativas a pleitos anteriores e a temas políticos e sociais que mobilizaram o país no pós-redemocratização.

Em um cenário político conturbado e com a democracia sob cotidiano ataque, vamos contribuir para o debate público com análises empiricamente fundamentadas e de fácil acesso.

Oswaldo E. do Amaral

Diretor do CESOP/UNICAMP