Rodrigo Dolandeli*
Segundo os últimos resultados das pesquisas de intenção de voto em Belém, a eleição para a prefeitura da capital paraense parece caminhar para uma vitória do candidato Igor Normando (MDB), que é apoiado por seu primo, o governador Hélder Barbalho (MDB). Este triunfo seria bastante significativo para o MDB, pois a última vez que o partido venceu as eleições na cidade foi em 1985, com Coutinho Jorge, que havia sido secretário de educação do governador Jader Barbalho, no início da década de 1980. Desde então, o cenário político local e nacional mudou substancialmente, e uma vitória em Belém representaria não apenas o retorno do MDB à prefeitura, mas também a consolidação do domínio político do governador no estado.
A poucas horas para a realização do pleito, as pesquisas mais recentes apontam uma ascensão significativa do candidato emedebista. A Quaest Pesquisa e Consultoria divulgada em 19 de outubro aponta Normando com 51% das intenções de voto, enquanto Delegado Eder Mauro (PL) tem 33%, na pesquisa estimulada. A liderança foi corroborada por levantamentos posteriores, dos institutos AtlasIntel, que indicou na última terça-feira 54,5% dos votos totais para Normando, e Real Time Big Data, que nesta sexta, já com cálculos de votos válidos, indica vitória do emedebista por 63% dos votos. Na rodada de agosto, ainda no primeiro turno, esses dois institutos já apresentavam Normando à frente na corrida eleitoral. A primeira fase do pleito foi encerrada com 44,89% dos votos computados para Normando e 31,48% para Eder Mauro. A abstenção na cidade foi de 20,14%.
No primeiro turno, o emedebista teve um crescimento impressionante na reta final da campanha, sugerindo a possibilidade de vitória já no primeiro turno, caso o ritmo de crescimento nas intenções de voto tivesse se mantido, já que as pesquisas também sinalizavam uma estagnação dos outros dois principais concorrentes: além de Delegado Éder Mauro, que chegou a liderar as pesquisas no início da campanha, também tinha chances Edmilson Rodrigues (PSOL). Rodrigues, o atual prefeito e então candidato à reeleição, acabou a primeira fase da corrida eleitoral em terceiro lugar, com 9,78% dos votos.
É inegável a dificuldade que o atual prefeito enfrentou para reverter sua alta rejeição, com índices entre 76% e 81%. Apesar de diversas ações realizadas pela prefeitura que foram benéficas à população, incluindo esforços para mitigar os impactos ambientais e melhorar a infraestrutura urbana, os eleitores, segundo as pesquisas, não têm uma imagem positiva do prefeito. Para o PSOL, nacionalmente, a derrota em Belém enfraqueceu suas pretensões partidárias de se tornar alternativa à esquerda na disputa de prefeituras em grandes cidades. A administração da capital paraense era vital para o partido, e a derrota pode trazer impactos profundos à organização, afetando suas estratégias e ambições futuras.
Esse cenário eleitoral na capital paraense também não é favorável à maior liderança do bolsonarismo no estado. O candidato Delegado Éder Mauro, um notório crítico das pautas ambientais, ficou mais distante da vitória nessas pesquisas mais recentes. Seu triunfo representaria um fortalecimento do bolsonarismo, sinalizando a expansão de pautas conservadoras e de direita no cenário político local. Portanto, a “saia-justa” de ter um prefeito negacionista do clima governando a cidade durante a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em 2025 parece que não se concretizará.
Por último, esse panorama consolida a força política de Hélder Barbalho, que vem emprestando toda sua popularidade e influência política à frente do governo do estado para seu candidato à prefeitura. O governador, que foi reeleito em 2022 com expressiva vitória – a maior proporcional do país – vem ampliando seu poderio e pavimenta o caminho para tornar o MDB ainda mais dominante no Pará. Se confirmada, a vitória de Igor Normando será não apenas um triunfo local, mas também um indicativo da capacidade do governador de projetar sua influência nacional e de se impor também nas próximas eleições estaduais.
(Crédito de imagem: Alexandre Costa / Ag. Pará)
* Rodrigo Dolandeli é professor da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPA (Universidade Federal do Pará).
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