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Baixa rejeição e ausência de oposição robusta reforçam chance de Campos no Recife

Atualizado: 3 de out.

Priscila Lapa e Sandro Prado*



O cenário eleitoral para a Prefeitura do Recife continua apontando para a reeleição do atual prefeito João Campos (PSB) já no primeiro turno. Com base nas pesquisas mais recentes dos institutos Datafolha e Quaest, Campos se mantém consolidado como líder absoluto na corrida eleitoral. Essa dominância pode ser explicada por uma série de fatores, incluindo sua capacidade de comunicação com o eleitorado, o legado político de seu pai, Eduardo Campos, e de seu bisavô, Miguel Arraes, além da ausência de uma oposição que apresente um projeto robusto, competitivo e com estratégias eleitorais eficazes e convincentes.


Os dados de intenção de voto indicam que João Campos tem 76% das preferências, segundo o Datafolha (eram 74% na pesquisa anterior), e 77% na Quaest (eram 76% na anterior), uma estabilidade com oscilação positiva, que sugere sua ampla aceitação entre os eleitores de praticamente todos os segmentos. Além disso, Campos apresenta uma rejeição de apenas 7% (Datafolha), o que aponta para uma margem confortável. O índice de rejeição é um indicador que evidencia o potencial de crescimento ou declínio dos candidatos ao longo da campanha. No caso de Campos, a baixa rejeição é um fator determinante para sua campanha de reeleição.


O segundo colocado, Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo no governo Bolsonaro, aparece com 9% das intenções de voto no Datafolha (estável em relação à pesquisa anterior) e 8% na Quaest (eram 6%), indicando que sua candidatura enfrenta dificuldades para crescer além da base bolsonarista. Mesmo com o apoio de Bolsonaro e sua presença no Recife em agosto o apadrinhando, a candidatura parece estagnada. Machado também lidera a rejeição, com 43%, um fator que limita sua competitividade e o impede de formar uma frente ampla de oposição ao atual prefeito. Esse quadro reflete, em grande medida, o enfraquecimento da direita bolsonarista na capital pernambucana, que, embora tenha obtido bons resultados em 2022, parece incapaz de reproduzir o mesmo nível de competitividade nas eleições municipais de 2024.


Os demais candidatos, como Daniel Coelho (PSD), Dani Portela (PSOL) e Técio Teles (Novo), estão tecnicamente empatados, com percentuais que variam entre 1% e 5%. Esse cenário revela a ausência de uma terceira via consolidada. Na pesquisa Datafolha, Coelho (PSD) aparece com 4% (eram 6%); Dani Portela (PSOL) com 3% (eram 4%); e Técio Teles (Novo) com 1% (era 0%). Já na pesquisa Quaest, Daniel Coelho tem 4% (eram 6%); Dani Portela, 2% (estável); e Técio Teles, 1% (estável). A fragmentação entre esses candidatos impede que surja uma nova oposição ao atual prefeito. Além disso, a alta rejeição de nomes como Daniel Coelho (34%) e Dani Portela (29%) dificulta que eles conquistem novos eleitores fora de suas bases tradicionais.  


Um dos fatores centrais para o sucesso da candidatura de Campos à reeleição é a capacidade de manter uma narrativa de continuidade e sucesso da gestão anterior. Campos, herdeiro do capital político de Eduardo Campos e Miguel Arraes, conseguiu, ao longo de seu mandato, construir essa narrativa, investindo em áreas sensíveis como educação, saúde e infraestrutura urbana. Ele tem usado esses elementos para reforçar sua candidatura, destacando sua gestão como eficiente e próxima das demandas da população.


Outro aspecto relevante é o impacto da polarização no cenário eleitoral local. No Recife, essa polarização parece estar concentrada em figuras como Gilson Machado, representante do bolsonarismo, mas a falta de competitividade de sua candidatura reflete a rejeição que o bolsonarismo enfrenta nas principais capitais do Nordeste. Diferente de outras regiões do país, onde a disputa entre bolsonarismo e lulismo ainda é central, o Recife parece caminhar para uma eleição menos polarizada, com João Campos consolidando uma base ampla de apoio em todos os espectros políticos.


A recente punição imposta pela Justiça Eleitoral a Machado, por veicular propagandas consideradas “acusações sem provas” relacionadas ao programa de parceria público-privada "Infância na Creche", adiciona mais um elemento relevante na corrida eleitoral. Essa decisão, que transferiu 38 minutos do tempo de Machado em guias eleitorais para João Campos e direito de resposta em 293 inserções, altera a dinâmica da campanha no rádio e na televisão.


O impacto desse desfecho judicial favorece a candidatura de Campos, que agora contará com quase 70% do tempo de guia eleitoral. Machado, que já enfrentava uma base de apoio limitada, agora lida com um grave déficit de visibilidade. Com apenas 5 segundos de tempo diário durante o guia eleitoral, sua capacidade de transmissão de mensagem durante o horário eleitoral gratuito é praticamente anulada.


Para João Campos, a ampliação de seu tempo de TV e rádio aumenta sua exposição positiva, permitindo-lhe aprofundar a sua estratégia de comunicação e construção de imagem. A punição aplicada a Machado, na prática, fortalece a campanha de Campos ao retirar a narrativa adversária do espaço público. Essa estratégia jurídica, somada ao bom desempenho nas pesquisas e à baixa rejeição, reforça a perspectiva de uma vitória antecipada.


Um ponto a ser observado nesta reta final é o comportamento do eleitorado indeciso, que varia entre 1% e 2%, na pesquisa estimulada, e daqueles que optam por votos em branco ou nulo, que somam 5% (Datafolha) e 6% (Quaest). São números baixos, demonstrando que essa vitória está praticamente consolidada no Recife.


(Crédito da imagem: Edson Holanda-PCR/Divulgação/PSB)

 

*Priscila Lapa é jornalista e doutora em Ciência Política (lapapriscila@gmail.com). Sandro Prado é economista e professor da FCAP-UPE (sandro.virgilio@upe.br). Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).

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