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Como o histórico dos candidatos explica indecisos em Curitiba



Maiane Bittencourt e Rodrigo Vicente Silva*

 

A pesquisa Quaest divulgada no dia 28 de agosto, em Curitiba, surpreendeu algumas campanhas e eleitores que acompanham de perto a disputa pela prefeitura da capital. Assim como em São Paulo, exemplo que tem sido destaque na imprensa recentemente, Curitiba apresenta quatro candidatos em situação de empate técnico. Os três mais bem posicionados numericamente possuem experiência na administração pública: Roberto Requião (Mobiliza) e Luciano Ducci (PSB), ambos ex-prefeitos da cidade, e Eduardo Pimentel (PSD), atual vice-prefeito.


Com 81% dos entrevistados ainda indecisos na pesquisa espontânea, quando não é apresentada ao ele uma lista de candidatos, o histórico  desses três candidatos ajuda a entender o cenário da corrida eleitoral na capital. Pimentel tem sido o vice-prefeito de Rafael Greca, o atual prefeito, nos últimos oito anos. Apoiado por ele e pelo governador Ratinho Júnior (todos do PSD), conta com as máquinas municipal e estadual ao seu favor. Assim, é prudente pensar em uma continuidade desse grupo político na prefeitura. Primeiro, porque Pimentel é, entre os candidatos com maior intenção de voto, o que enfrenta a menor rejeição. Embora um quarto do eleitorado ainda não o conheça, há potencial para ampliar sua base de apoio. Dois fatores impulsionam o crescimento do candidato: 65% avaliam positivamente a gestão atual de Greca, e 60% acreditam que o atual prefeito merece fazer um sucessor.


Outro dado da pesquisa espontânea que favorece Pimentel é o resultado quando o eleitor é questionado sobre em quem pretende votar. Nesse cenário, Pimentel recebe 9% das intenções de voto, enquanto quase todos os outros candidatos ficam com apenas 1%. Isso mostra que, embora ele não seja muito conhecido, entre aqueles que o conhecem, há uma preferência pelo candidato.


Ao seu lado está Roberto Requião, um ex-prefeito, ex-senador e ex-governador por três mandatos, que ressurgiu em um partido nanico (Mobiliza). Essa decisão veio após uma acirrada disputa interna no PT, partido pelo qual Requião desejava se candidatar à prefeitura. Na pesquisa, no entanto, se compreende o motivo de o PT não alçar sua candidatura: Requião conta com a maior rejeição entre todos os candidatos, 51%. Esse desgaste tem lastro.


Desde 2016, quando Requião era senador pelo MDB, vem amargando na vida política. Disposto a encarar a crise política de Dilma, foi contrário ao impeachment e passou a colher frutos dessa escolha. Tentou se reeleger senador e perdeu. Migrou para o PT e tentou ser o candidato de Lula ao governo do estado, mas ficou sem nem chances de ir ao segundo turno. De lá para cá, o candidato não tem conseguido melhorar sua imagem com o eleitorado curitibano.


Logo atrás, empatado com Requião e, na margem de erro, com Pimentel está Luciano Ducci, candidato pelo PSB, cuja candidatura vem de uma longa negociação entre as agremiações mais à esquerda em Curitiba, com apoio do PDT, que figura sua vice-candidatura, e do PT.


Porém, outras duas informações essenciais para a corrida eleitoral indicam um cenário favorável a Pimentel: o alto número de eleitores indecisos e a baixa rejeição entre seus apoiadores. Em Curitiba, 67% do eleitorado afirma que ainda pode mudar de voto. Apesar do grande número de candidatos vinculados à centro-direita e à direita, muitos eleitores podem optar por mudar seu voto para evitar desperdiçá-lo. Dessa forma, com o apoio da máquina política e de figuras influentes na capital, o atual prefeito pode ser o principal beneficiado.


Nesse gancho, a Quaest revelou que 59% dos eleitores não votariam em um candidato apoiado por Ratinho Júnior. Embora esse número seja significativo, ele é minimizado quando comparado aos 82% de rejeição a um candidato associado a Lula. Isso sugere que Ducci pode ser prejudicado na corrida eleitoral se aparecer ao lado do atual presidente. E devido à alta rejeição de Requião, Pimentel tem o cenário mais favorável para vencer um segundo turno.


 Entre os eleitores de Bolsonaro, 68% avaliam positivamente a administração do atual prefeito. Essa visão favorável é compartilhada por 63% dos eleitores de Lula e por aqueles que não compareceram às urnas na última eleição. Esse dado se torna mais relevante no argumento de que Curitiba pode eleger um sucessor ao considerarmos o perfil do eleitorado da capital. Cerca de 30% dos eleitores se dizem sem posicionamento definido, inclinando-se mais para o centro, enquanto outros 30% se identificam como não bolsonaristas, mas se posicionam à direita no espectro político. Além disso, 14% se declaram bolsonaristas. Dessa forma, Pimentel tem a possibilidade de disputar até 74% do eleitorado curitibano, beneficiado ainda pela alta aprovação de seus principais padrinhos políticos.


Mas com apenas o início da corrida eleitoral, os candidatos precisam prestar atenção a dois fatores destacados pela pesquisa da Quaest. O primeiro é a percepção dos eleitores de que a segurança é o problema mais grave que a cidade enfrenta atualmente. Nos três maiores colégios eleitorais — Cidade Industrial, Sítio Cercado e Boqueirão — altos índices de desigualdade social e problemas de infraestrutura aumentam a sensação de insegurança. O segundo fator é o impacto da TV na campanha, junto das redes sociais. A pesquisa mostrou que, juntas, essas mídias representam 69% das fontes de informação mais utilizadas pelo eleitorado. Portanto, as campanhas terão o desafio de equilibrar as estratégias tradicionais de marketing televisivo com novas abordagens nas redes sociais.


(Crédito de imagem: Divulgação/Secretaria de Turismo)


 *Maiane Bittencourt é cientista política, doutoranda em Ciência Política pela UFPR e pesquisadora no INCT ReDem e no LabCD UFPR/MinC. Rodrigo Vicente Silva é jornalista, mestre e doutorando em Ciência Política pela UFPR e é pesquisador no INCT ReDem. Este artigo foi publicado originalmente no site Jornal GGN.

 

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