Vítor Sandes*
Créditos: Divulgação
Nas eleições municipais de 2024, a cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, destaca-se como um campo de disputa bastante acirrado. São nove candidatos na disputa para a Prefeitura: Dr. Pessoa (PRD), Fábio Novo (PT), Francinaldo Leão (PSOL), Geraldo Carvalho (PSTU), Lourdes Melo (PCO), Professor Tonny (Novo), Santiago Belizário (UP), Sílvio Mendes (União) e Telsírio Alencar (Mobiliza).
Apesar do elevado número de concorrentes, a disputa parece se centrar entre dois candidatos. De um lado, Sílvio Mendes (União), prefeito de Teresina de 2005 a 2010, à época pelo PSDB; de outro, Fábio Novo (PT), deputado estadual e ex-secretário estadual de Cultura.
De acordo com dados da Ipespe Analítica atualizados até 3 de setembro, o candidato do PT aparece com 44% das intenções de voto, enquanto o candidato do União Brasil tem 39%. Isso significa que, juntos, esses dois candidatos somam 83% das intenções de votos, restando os outros 17% aos demais candidatos e aos nulos, brancos e indecisos.
O terceiro colocado, Dr. Pessoa, atual prefeito da cidade, possui 4% das intenções de voto. Sua alta rejeição — 79% dos entrevistados desaprovam sua gestão, segundo pesquisa da Quaest realizada entre 23 e 25 de agosto — limita suas chances de reeleição.
Diversos institutos também têm revelado uma boa avaliação do governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), em Teresina. Na mesma pesquisa da Quaest, o atual chefe do Executivo estadual obteve 56% de avaliação positiva, 28% de regular e somente 8% de avaliação negativa.
Desde o início de sua gestão, Fonteles tem investido em áreas importantes para a população de Teresina, como a segurança pública, o que lhe garante um apoio significativo do eleitorado local. Essa conjuntura, combinada com a baixa popularidade do atual prefeito, abre espaço para uma candidatura mais competitiva do PT na capital.
O candidato petista, Fábio Novo, também conseguiu angariar apoio formal de uma ampla coalizão de partidos. Além da federação de que faz parte (PT, PC do B e PV), sua coligação inclui a federação PSDB-Cidadania e outros oito partidos: PDT, MDB, PODE, DC, Agir, PSB, PSD e Solidariedade.
Por outro lado, Sílvio Mendes, do União, conta com o apoio de mais dois partidos: o PP e o Republicanos. Embora sua base aliada seja menor, Mendes mantém um eleitorado fiel na capital. Na eleição estadual de 2022, como candidato ao governo, Mendes foi derrotado no primeiro turno por Rafael Fonteles, mas obteve 50,95% dos votos válidos em Teresina, contra 45,68% do petista, uma diferença de 24.161 votos.
Contudo, o cenário político atual é distinto. A eleição de 2022 envolveu uma disputa estadual marcada pela rivalidade entre Ciro Nogueira (PP) e Wellington Dias (PT), repercutida no pleito estadual, e uma polarização entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT) na disputa presidencial, refletindo o alinhamento das disputas estaduais com a eleição presidencial. Em 2024, Nogueira tem mantido uma atuação mais discreta em Teresina, apesar de seu partido apoiar Mendes.
Já em 2022, Rafael Fonteles possuía mais força política na capital do que Wellington Dias (PT). Para efeito de comparação, Fonteles obteve significativamente mais votos em Teresina naquele pleito do que Dias, que concorria ao Senado. Joel Rodrigues (PP), apoiado por Ciro Nogueira e Sílvio Mendes, conquistou 58,07% dos votos válidos na capital, contra 39,35% de Dias, uma diferença expressiva de 82.259 votos. Ainda assim, Dias foi eleito senador. A força política de Fonteles em Teresina, já percebida em 2022 e agora confirmada pelas pesquisas eleitorais, pode ser um ativo central na disputa pela prefeitura da capital piauiense.
Com o apoio dos governos federal e estadual, além da boa avaliação de Fonteles, o PT enxerga uma oportunidade para, pela primeira vez, eleger o prefeito de Teresina. No entanto, essa tarefa não será fácil, considerando a resiliência da preferência de uma parcela significativa do eleitorado teresinense por Sílvio Mendes.
A atual disputa local reflete a mesma polarização política vista em 2022, entre PT e União Brasil. Embora a tendência seja que a eleição municipal se concentre em questões locais, é difícil dissociá-la do cenário estadual e nacional, especialmente devido ao alinhamento partidário e ao impacto que as dinâmicas políticas nacional e estadual podem ter nas decisões do eleitorado local.
* Vítor Sandes é cientista político, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
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