Alexandre Arns, Helena Martins e Maria Alice S. Ferreira

Publicado no GGN

 

A pandemia de coronavírus e a corrupção foram os principais temas que marcaram o primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Presidência da República no domingo, 16 de outubro. O debate foi promovido por um pool de veículos – Band, jornal Folha de S. Paulo, portal Uol e bateu recorde de audiência. Além dos dois temas que apareceram entre os candidatos e os internautas com mais força,  há destaque também para o assunto “pedofilia” e “pintou um clima”, a partir do vídeo de Jair Bolsonaro relatando, em entrevista, um episódio com meninas venezuelans. Sem contar também a avalanche de desinformação que circuou durante o debate, especialmente levada à cena pelo candidato  Jair Bolsonaro. Um resumo desse conjunto  foi apresentado por Jair Bolsonaro nos minutos (quase seis) que o atual presidente teve para falar, sozinho, no penúltimo bloco do debate. Naquele momento, Jair Bolsoanro desfilou o cabedal de fake news que já inunda as redes sociais, como fechamento de templos, proposição de banheiro unissex, menção a grupos criminosos e avaliações enviesadas sobre a política internacional latino-americana, sem que houvesse   a  possibilidade de checagem.

 

Na TV, a audiência da Band ultrapassou a da Record e chegou a se aproximar da audiência  da Globo, especialmente na segunda metade do debate.

Com muito engajamento nas redes, o debate na Band foi apontado como a live jornalística com mais visualizações no YouTube no Brasil, segundo anunciou a emissora. No Twitter, foram mais de 670 mil mensagens com a #DebatenaBand até 22h15.

 

Bolsonaristas demoram a se engajar nas redes

 

Pressionado por dias de críticas sobre possível caso de pedofolia de Bolsonaro, o campo bolsonarista demorou a começar a se engajar no debate. Durante o primeiro e o segundo blocos, em que Lula teve melhor participação, o campo dadireita tentou dar vazão às falas de Bolsonaro. Nikolas Ferreira, o deputado federal mais votado do país,  por  Minas Gerais, teve mais reações em um tweet em que critica o que seria o uso político das mortes da esposa de Lula e de sua sogra e também mobilizou suas redes ao comentar o sorriso de Lula. A a postagem com a fala de Jair Bolsonaro saudando, ironicamente, a jornalista Vera Magalhães, teve ampla repercussão Perto do fim do debate, refletindo a expectativa em torno do tempo livre para Bolsonaro falar, depois de Lula ter esgotado o seu tempo, críticas a falas com palavras equivocadas de Lula mobilizaram as redes, culminando com post tentando subir a hashtag #LulaVergonhaNacional.

 

No campo lulista, André Janones engajou os internautas  com informações de bastidores, especialmente com uma foto de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro no estúdio, e fazendo alusões à estratégia do debate. O deputado também trouxe à tona a questão da pedofilia, comentando que Lula estava com um  broche que é símbolo de campanha contra a exploração sexual infantil. O post com maior adesão de Janones referia-se a Bolsonaro como miliciano.

 

“Covid” foi o  mais comentado do debate

 

Carla Zambelli,deputada federal reeleita e uma das principais apoiadoras de Jair Bolsonaro, utilizou a estratégia de contagiar seus seguidores com um certo clima de entusiasmo e otimismo durante o debate. A deputada publicou memes com o rosto de Lula, vídeos de luta e vídeos editados do próprio debate para passar a mensagem de que Bolsonaro havia se saído muito melhor do que  Lula. Além disso, a deputada também publicou um gráfico sobre o desmatamento (citado por Bolsonaro durante o debate) fazendo comparações. Esse dado, porém, foi contestado pelo Observatório do Clima.

 

Alexandre Frota, ex-aliado de Bolsonaro, também utilizou memes e vídeos com trechos do debate em seu feed. Frota, no entanto, publicou vários tuítes desmentindo informações ditas por Jair Bolsonaro durante o debate, como os dados sobre o desmatamento e a afirmação de que ele, Bolsonaro, não  seria o “pai” do orçamento secreto.

 

O Google Trends, na véspera do debate, apontava que as principais buscas relacionadas ao termo “Bolsonaro” nas últimas 24 horas eram “bolsonaro pintou um clima” e “bolsonaro pedófilo”, em razão da repercussão de um vídeo com sua  fala, em entrevista a um podcast, dizendo que “pintou um clima” entre ele e “umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos”. Com relação ao termo “Lula”, nas últimas 24 horas após o debate, as principais buscas relacionadas eram “mané garrincha” e “mané garrincha posse Lula”. A busca por esses  termos leva, como primeiro resultado, um tuíte de Roger Rocha, que criticava o fato de o Google apresentar, como programação de atividades no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, uma festa pela posse de Lula.

Com relação às buscas no YouTube, o Google Trends apresentou um padrão similar ao Google com relação ao termo “Bolsonaro”. No YouTube, as principais buscas relacionadas ao termo  “Bolsonaro” nas 24 horas anteriores ao debate eram “vídeo bolsonaro pintando um clima” e “bolsonaro falando que pintou um clima”. Em contrapartida, as buscas relacionadas a  “Lula” no YouTube eram “lula beija criança” e “lula pedófilo”.

Após o debate, nas 24 horas posteriores, as principais buscas relacionadas a “Bolsonaro” e “Lula” padronizaram, segundo o Google Trends. No Google, relacionadas a “Bolsonaro”, predominaram buscas por “desmatamento governo lula e bolsonaro”, “desmatamento jair bolsonaro”; relacionadas a “Lula” predominaram “desmatamento 2003 e 2006” e “desmatamento da amazônia governo lula”. No Youtube, as buscas eram sobre o próprio debate;  relacionadas a “Bolsonaro” foram “debate lula e bolsonaro na band ao vivo” e “debate lula e bolsonaro ao vivo”, e relacionadas a “Lula” foram “debate lula e bolsonaro 16/10” e “debate lula e bolsonaro na band ao vivo”.

 

Alexandre Arns é pesquisador colaborador do Instituto de Ciência Política da UnB, doutor e mestre em Ciência Política

 

Helena Martins é doutora em Comunicação pela UnB, professora da Universidade Federal do Ceará

 

Maria Alice S. Ferreira é pesquisadora do INCT IDDC. Doutora e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais.