Andressa Rovani*

Quatro em cada dez homens no Brasil afirmam não votar de jeito nenhum em Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pesquisa Datafolha de intenção de voto realizada entre 30 de agosto e 1º de setembro deste ano. A taxa de rejeição ao petista atingiu a marca de 44%, dez pontos percentuais acima do verificado quatro anos antes e novo pontos percentuais à frente das mulheres. É o maior patamar registrado por um candidato do PT entre o eleitorado masculino nos últimos 20 anos, quando são comparados os mesmos períodos da disputa eleitoral.

Historicamente, eram as mulheres que concentravam a maior parcela de rejeição aos nomes do PT em disputas presidenciais. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente da República pela primeira vez, por exemplo, 35% das eleitoras afirmaram, em momento semelhante da disputa, não votar em Lula de jeito nenhum, contra 27% dos homens.

Como é possível analisar no gráfico, 2014 representa um ponto de virada na rejeição masculina ao PT.  Naquele ano, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) buscava a reeleição, eleitores homens e eleitoras mulheres apresentam a mesma taxa de rejeição à petista: 34%. A partir daí, são os homens que passam a liderar a rejeição aos candidatos do PT.

A virada ocorrida a partir de 2014 coincide com o aumento da percepção da corrupção como principal problema do país, sobretudo entre os homens. Durante os dois mantados do ex-presidente Lula, a escolha da corrupção como maior entrave do país era escolha de 4% da população brasileira em 2003. No final do segundo mandato de Lula, em 2010, a taxa era de 6%, atrás de preocupações como saúde. 

Essa taxa subiu para 9% ao final dos quatro primeiros anos de governo de Dilma Rousseff, em 2014. Mas é ao longo de 2015, já no segundo ano de Operação Lava Jato, que a corrupção passa a ser vista como nosso principal problema, citada por 34% dos entrevistados. Naquela época, os homens já se demonstravam mais sensíveis à questão (39%) em relação às mulheres (28%). 

Em pesquisa Datafolha feita pouco antes do segundo turno de 2018, 12% dos homens afirmavam que o combate à corrupção era o motivo que os levaria a votar em Jair Bolsonaro, contra 7% das eleitoras mulheres.

Passados sete anos, em 2022 a identificação da corrupção como principal mazela voltou ao patamar de 5%, segundo levantamento feito em março deste ano pelo Datafolha. A taxa entre homens é o dobro da registrada entre mulheres, mas saúde e economia lideram a lista. Na disputa liderada por Lula e Bolsonaro, 8% dos eleitores e eleitoras que declaram voto em Bolsonaro veem a corrupção como principal problema do país, o dobro da taxa registrada entre eleitores de Lula (4%), segundo pesquisa Quaest (https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2022/09/indecisos-concordam-mais-com-eleitores-de-lula-do-que-com-os-de-bolsonaro-sobre-principal-problema-do-pais.ghtml).

Entre as mulheres, a rejeição a Lula é a mesma registrada há 20 anos: 35% das eleitoras dizem não votar no candidato do PT de jeito nenhum. Ao longo desse período, a taxa oscilou, considerando momentos semelhantes da disputa, entre 35% e 29%. Em 2010, quando Lula buscava fazer de Dilma Rousseff sua sucessora, a candidata registrava em agosto daquele ano rejeição de 21% entre mulheres e de 18% entre homens, fruto da ainda incompleta associação entre os dois nomes. A pesquisa do Datafolha já indicava, entretanto, que 29% eleitores não votariam em um candidato que fosse indicado pelo então presidente Lula. 

Apesar do crescimento da rejeição ao candidato do PT entre homens, Bolsonaro se mantém como candidato mais rejeitado pelos eleitores brasileiros em 2022, em ambos os sexos. Entre os homens, a taxa é de 48%, o que indica um possível empate no limite da margem de erro, de 2%, com a taxa de rejeição masculina a Lula. Já entre as mulheres, 53% declaram não votar em Bolsonaro de jeito nenhum, 20 pontos percentuais a mais do que a rejeição a Lula.

Em todos os casos, as respostas foram dadas à pergunta “Em quais desses possíveis candidatos _____ você não votaria de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente deste esse ano? E qual mais?” ou semelhante a ela, podendo o entrevistado indicar mais de um nome.

 

*Andressa Rovani é doutoranda em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).