Em SP, Lula amplia votação do PT em todas as cidades. Bolsonaro perde votos em 3 a cada 4 municípios

Em SP, Lula amplia votação do PT em todas as cidades. Bolsonaro perde votos em 3 a cada 4 municípios

Otávio Z. Catelano, Andressa Z. Rovani e Fabíola Brigante Del Porto

Publicados na Mídia Ninja

 

 

Em relação a 2018, Bolsonaro teve porcentagens menores em 76% dos municípios paulistas. Apesar de vencer no primeiro turno em São Paulo, o presidente teve 138 mil votos a menos do que na última eleição

 

Entre as eleições de 2018 e 2022, o estado de São Paulo ganhou mais de 1,6 milhão de novos eleitores, totalizando 34,6 milhões de cidadãos aptos a votar atualmente – o que representa cerca de 21% do eleitorado brasileiro. No primeiro turno da disputa presidencial de 2022, o estado registrou 23,4 milhões de votos válidos, sendo 47,7% para Jair Bolsonaro (PL) e 40,9% para Lula (PT).

 

Por ser o estado com maior número de votos do país, os candidatos tendem a concentrar seus esforços em SP. A campanha de Lula, por exemplo, tentou reverter a baixa votação do candidato petista de 2018, Fernando Haddad – o agora candidato ao governo do estado que disputou a Presidência da República pelo PT. Na última eleição, Haddad testemunhou uma disparada de Bolsonaro entre os eleitores do estado.

 

Como resultado, Lula conquistou 6,6 milhões de votos paulistas a mais que Haddad em 2018. Somente na capital do estado, o ex-presidente teve quase 28% de votos a mais que o ex-prefeito – cerca de dois milhões de votos de diferença. Já São José do Barreiro, uma pequena cidade próxima à divisa com o Rio de Janeiro, foi a cidade em que a diferença de votos petistas mais cresceu. Em 2018, Haddad havia conquistado 17,6% dos votos barreirenses, enquanto neste ano Lula alcançou 55,3%.

 

Observando o restante dos municípios, Lula conquistou porcentagens maiores que Haddad em 100% do estado. Apenas em Barra do Chapéu (+3,3%) e Barra do Turvo (+9,2%) o crescimento registrou taxa menor que dez pontos percentuais. Em pelo menos 384 cidades, o ganho foi de 20 pontos ou mais. Entre esses, destaca-se Pindamonhangaba, a cidade de Geraldo Alckmin, onde Lula angariou 22.578 votos a mais do que Haddad em 2018 – uma diferença de 24%. Também chama atenção o aumento de 22,7% de votos em São José dos Campos (101.929 votos a mais), a cidade escolhida como domicílio eleitoral de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

 

Apesar de ter mantido sua vitória no estado de São Paulo, Bolsonaro viu seu apoio encolher: o candidato à reeleição saiu do primeiro turno com 138 mil votos a menos do que conquistou em 2018. Considerando apenas a capital, a perda foi de cerca de 217 mil votos, compensada com alguns pequenos ganhos no interior. Dos 645 municípios do estado, Bolsonaro conquistou novos eleitores em relação ao primeiro turno de 2018 em apenas 150 – ou uma a cada quatro cidades paulistas. Mesmo nessas cidades, o crescimento é pequeno. Os aumentos mais expressivos foram nas cidades de Barra do Chapéu (+14,7%, 544 votos), Itaoca (+13,5%, 322 votos) e Ribeirão Branco (+10,6%, 1.181 votos).

 

Em Saltinho, a cidade mais bolsonarista do estado, o presidente alcançou 75,8% dos votos no primeiro turno. Entretanto, mesmo lá, sua porcentagem caiu 1,5% em relação à votação em 2018. Além disso, Bolsonaro perdeu votos em todas as cidades paulistas que registraram mais de 100 mil votos válidos em 2018, mesmo naquelas em que conquistou um número expressivo de votos, como é o caso de Piracicaba (64% em 2018 e 61% em 2022).

 

Em um segundo turno apertado, cada voto faz a diferença.Mesmo conquistando menos votos em SP do que Bolsonaro, não faltam motivos para que a campanha de Lula veja com bons olhos os resultados do primeiro turno no estado. 

Otávio Z. Catelano – Doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Cesop-Unicamp no Observatório das Eleições 2022 (INCT IDDC)

Andressa Z. Rovani – Doutoranda pela Unicamp e pesquisadora do Cesop-Unicamp no Observatório das Eleições 2022 (INCT IDDC)

Fabíola Brigante Del Porto – pesquisadora do Cesop-Unicamp e do Observatório das Eleições 2022 (INCT IDCC)

8 a cada 10 brasileiros acham que derrotado deve reconhecer resultado das eleições em qualquer circunstância

8 a cada 10 brasileiros acham que derrotado deve reconhecer resultado das eleições em qualquer circunstância

No entanto, números variam conforme posicionamento político e eleitoral dos eleitores

 

Quem respeita os resultados eleitorais no Brasil? As tentativas de deslegitimar as urnas eletrônicas colocaram essa discussão em alta nos últimos meses. Ainda assim, essa tentativa parece ter falhado: conforme artigo de Valéria Cabrera publicado no Pulso, a confiança na apuração das urnas tem crescido nos últimos anos.

 

Além disso, um alto número de brasileiros tem apreço pelos resultados das apurações. A pesquisa A Cara da Democracia** mostra que 79,5% dos eleitores concordam que “os derrotados devem reconhecer o resultado em qualquer circunstância”. Enquanto isso, apenas 7,8% pensa que “os derrotados devem reconhecer o resultado apenas se a diferença de votos for grande” e um número ainda menor, 4,1% dos entrevistados, acredita que “os derrotados não devem reconhecer o resultado das eleições”.

 

Entretanto, essas taxas variam conforme o ponto de vista sobre os dados. Observando grupos sociais diferentes, por exemplo, é possível notar que eleitores mais escolarizados, de maior renda e mais jovens tendem a concordar mais com a ideia de que os derrotados devem reconhecer resultados em qualquer cenário.

 

Além disso, posicionamentos políticos e eleitorais explicam variações dos dados. Entre os eleitores das principais candidaturas, os bolsonaristas são os que possuem a menor proporção de pessoas que acham que o derrotado deve reconhecer resultados: 75%. Mesmo que seja um número alto, é bem menor que o número entre os lulistas, 82%, e entre os ciristas, 88%.

 

Quando solicitados a se posicionarem numa escala entre “esquerda” e “direita”, outra variação se confirma: os eleitores que se posicionam à esquerda e ao centro possuem taxas semelhantes de eleitores que pensam que os resultados devem ser respeitados: 85% e 84%, respectivamente. Já os eleitores que se posicionam à direita têm uma taxa menor, atingindo 76%.

 

Vale ressaltar que esses são a maioria do eleitorado: 38% do eleitorado se diz de direita, enquanto 30% se diz de centro e apenas 16% afirma ser de esquerda. Unificados em torno do pensamento de que o candidato derrotado deve se reconhecer como tal, os eleitores de centro e de esquerda formam maioria. Em uma eleição com tantos desafios às instituições democráticas brasileiras, essa parcela do eleitorado pode furar bolhas para se unir à maioria do eleitorado de direita, que concorda com o mesmo princípio, e assim convencerem os postulantes à presidência de que os resultados revelados pelas urnas devem ser aceitos e respeitados.

 

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP-Unicamp) no Observatório das Eleições 2022.

**Feita pelo Instituto da Democracia (IDDC INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em 101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro e foi contratada pelo CNPq e pela Fapemig.

O que está em jogo nas eleições 2022: opinião pública

O que está em jogo nas eleições 2022: opinião pública

Fabíola Brigante Del Porto

Publicado no NEXO

Série de pesquisas se debruça sobre a relação dos brasileiros com a democracia. Resultados revelam disposição da população para defender regime

Em nenhum outro momento da história política recente do país prestou-se tanta atenção nos humores do eleitorado como em 2022. Analistas e jornalistas passaram os últimos meses debruçados sobre pesquisas de opinião pública para tentar compreender o que está acontecendo com os eleitores brasileiros. As pesquisas de intenção de voto, inclusive, transformaram-se em assunto de batalha política, com os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro buscando desacreditar os resultados divulgados pelos principais institutos do país.

O fato é que as pesquisas contaram a história de um governo mal-avaliado e que cotidianamente agrediu as instituições democráticas. A série de pesquisas “A Cara da Democracia”, realizada pelo INCT-IDDC (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação), contribuiu muito para a compreensão dos últimos quatro anos no Brasil. No último levantamento, realizado entre 9 e 14 de setembro, a relação dos brasileiros com a democracia foi objeto de análise.  

Na eleição em que mais nos preocupamos em defender a democracia desde o fim do regime militar, a pesquisa revela que não chega a 30% o percentual de brasileiros completamente dispostos (em uma escala de 1 a 10 dão a nota máxima) a participar de manifestações para defender “direitos democráticos”. Para comparação, a mesma pesquisa mostra que 53% dos entrevistados se dispõem a participar de protestos contra a corrupção. E isso (a baixa disposição dos cidadãos em participar de manifestações em defesa da democracia) ao mesmo tempo que a pesquisa aponta que quase 70% dos brasileiros preferem sempre a democracia (um aumento de dez pontos percentuais em relação à onda de junho de “A cara da democracia”), mas discretamente inferior ao apurado pelo Instituto Datafolha em agosto, na sequência das cartas, atos e manifestos de diferentes entidades da sociedade civil em defesa da democracia.

Para mantermos algum otimismo com relação à disposição da sociedade brasileira em protestar para defender os direitos democráticos, há que se considerar que, se comparado à pesquisa do Latinobarómetro do final de 2013, ano em que ocorreram no país as “manifestações de junho”, o resultado atual mostra um aumento (também de dez pontos percentuais) na disposição dos brasileiros. Em 2013, o percentual de menos de 20% de entrevistados que apontava estar “completamente disposto” a participar de manifestações em defesa de direitos democráticos pode ser atribuído ao nosso otimismo com os sinais da consolidação da democracia brasileira, quando não víamos necessidade nesse engajamento, pois a democracia não estava em xeque. A própria explosão de manifestantes nas ruas naquele ano, apesar da enorme insatisfação que revelava, foi vista, em princípio, como expressão de uma democracia viva. 

A disposição dos cidadãos em se manifestar em defesa de direitos democráticos começou a aumentar em 2015, em um cenário em que a democracia brasileira passava a sofrer solavancos, ameaças e instabilidades. Em 2020, após dois anos de governo Bolsonaro e seus retrocessos, essa disposição atingiu o mais alto patamar na série de pesquisas disponíveis, com um em cada três brasileiros dando a pontuação máxima na escala de disposição em defender a democracia em protestos. O resultado mais recente da pesquisa “A cara da democracia” mostra, portanto, uma ligeira oscilação negativa nessa disposição (de 32% para 27,3%), ainda que muito próxima das margens de erro dos levantamentos. Ao lado disso, outro ponto chama a atenção negativamente nos dados atuais: em 2022, o percentual dos que não estão nem um pouco dispostos a participar de protestos para defender a democracia é de 30%, o mais elevado desde 2013, porcentagem ainda mais expressiva quando comparada ao levantamento do Latinobarómetro de 2020, quando apenas 15% dos entrevistados atribuíram essa mais baixa pontuação à sua disposição em defender “direitos democráticos”.

 

No período 2013 a 2020, ainda de acordo com levantamentos do Latinobarómetro, os brasileiros mostraram maior disposição em protestar por preocupações mais concretas, como melhores serviços de saúde e de educação, melhores condições de trabalho e salários mais elevados (infelizmente, não temos dados sobre isso na mais recente pesquisa para comparar). Essas questões, desde o início da democracia recente, são temas que traduzem expectativas dos cidadãos com relação aos governos democráticos, mas que não são percebidas por aqueles como possíveis definições da democracia. Resultados do Estudo Eleitoral Brasileiro, realizado pelo Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), para 2014 e 2018, mostraram que, quando pedidos para definir a democracia em suas palavras, quase metade dos entrevistados não foi capaz de dar alguma resposta e, entre os que o fizeram, as maiores menções se referiam a procedimentos, como o direito de voto, e a liberdades. Isso sugere que, para grande parte dos brasileiros, a democracia parece mais uma abstração ou uma formalidade. 

 

Quando, na nova pesquisa “A cara da democracia”, cruzamos a preferência por regimes e a disposição em participar de protestos para defender a democracia, observamos que, entre os quase 70% que preferem este regime, a disposição em defendê-lo é apenas um pouco mais elevada do que a dos que acham que “a ditadura pode ser melhor em certas circunstâncias” e a daqueles que acham que “tanto faz o regime” – entre os que se dizem “democráticos”, apenas três em cada dez respondem estar “completamente dispostos” a defender a democracia; nos outros dois grupos a proporção é de dois para cada dez.

Paralelamente à baixa disposição dos entrevistados em defender o regime democrático (e, mais notadamente, a dos que acreditam na superioridade deste regime), o resultado que mais chama a atenção na pesquisa recente aparece quando desagregamos os dados de disposição em participar de manifestações para defender “direitos democráticos” pelas clivagens marcantes da atual polarização da política brasileira – bolsonaristas e petistas – e isolamos esses grupos (que reúnem 15,7% e 13,5% dos entrevistados, respectivamente) do restante dos eleitores. Primeiramente, é notável que o grupo que não se identifica nem com o bolsonarismo nem com o petismo é o que responde em menor proporção estar “completamente disposto” a defender a democracia em protestos (21,6%). Porém, o que intriga observar é que, entre as duas clivagens da polarização política, o percentual de bolsonaristas que se diz totalmente disposto a defender “direitos democráticos” é mais elevado do que o de petistas (45,6% e 35,3%, respectivamente). 

Por mais que esse resultado possa, de início, nos surpreender, é preciso considerar que o próprio presidente Jair Bolsonaro diz defender a democracia desde seu discurso de posse e, mesmo quando afronta as instituições, o Supremo Tribunal Federal em particular, o faz sob a alegação de que “todos precisam jogar dentro das quatro linhas da constituição”. 

Ainda, em 2018, não obstante a questão democrática tenha sido tratada como uma questão de menor importância na decisão eleitoral, pesquisa do Datafolha realizada na véspera do segundo turno, mostrava que 41,4% dos brasileiros consideravam Bolsonaro o candidato mais autoritário, e, ao mesmo tempo, o que mais defenderia a democracia (considerando aqui os que responderam “não sei”, “nenhum” e “os dois”. Excluídos esses, a porcentagem chegava a 47,4%). Entre os que declaravam o voto em Bolsonaro, esse percentual atingia 66,4% (do mesmo modo, considerando os que responderam “não sei”, “nenhum” e “os dois”. Excluídos esses, o percentual atingia 78,8%). Vale dizer, para grande parte de seus eleitores, parecia não haver contradição ou incongruência entre o líder/candidato ocupar os dois papéis simultaneamente.

Após parte significativa dos brasileiros ter relevado as características autoritárias de Jair Bolsonaro na eleição de 2018, os resultados desta rodada de “A cara da democracia” nos alertam para o fato de que enquanto é baixa a nossa disposição em nos mobilizar em defesa de “direitos democráticos”, o campo bolsonarista (por menor que ele ainda seja) se mostra disposto a fazê-lo.

Sabemos que o conceito de democracia pode ter interpretações, para dizer o mínimo, bastante controversas. Lembremos, por exemplo, que o golpe militar contra o então presidente da República, João Goulart, em 1964, foi dado em nome da democracia, visão reproduzida em março último, 58 anos depois, com a publicação, por parte do Ministério da Defesa, da “Ordem do Dia alusiva ao dia 31 de março”. Afinal, especialmente para a nossa recente trajetória política pós-Constituição de 1988, o que é democracia e quais são os direitos e valores que devem ser defendidos?

 

Fabíola Brigante Del Porto é graduada em ciências sociais, mestre e doutora em Ciência política pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). É pesquisadora do Cesop (Centro de Estudos de Opinião Pública), da Unicamp, e editora-assistente da Revista Opinião Pública, publicação deste centro de pesquisa.

Cresce a confiança na contagem dos votos em 2022. Bolsonaristas confiam em menor proporção

Cresce a confiança na contagem dos votos em 2022. Bolsonaristas confiam em menor proporção

Valéria C. Cabrera

Publicado no Pulso

As urnas eletrônicas brasileiras têm sido consideradas, mundialmente, um grande avanço na gestão das eleições desde a década de 1990. Com tecnologia aprimorada a cada ano e sistema informatizado considerado seguro ao ataque de hackers, principalmente por não oferecer conexão à internet, essas urnas têm, mesmo assim, sido alvo de difusão de notícias falsas nas redes sociais, que levantam dúvidas quando à confiabilidade da contagem de votos no Brasil.

Nesse cenário, o próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que o sistema eleitoral do país estaria sujeito à fraude, posicionando-se favorável à PEC 135/2019, derrotada no Congresso Nacional, que buscava implantar um método de conferência impresso dos votos computados pela urna eletrônica. Dados da pesquisa “A cara da democracia” (INCT – IDDC), entretanto, mostram que a confiança na honestidade da contagem dos votos no Brasil tem crescido entre a população, aumentando 12 pontos percentuais entre 2021 e 2022, em meio à intensificação do debate sobre o tema. 

É possível que esse resultado tenha relação com o esforço da Justiça Eleitoral em reafirmar a lisura das eleições nos país, mas também pode representar certa reação à difusão de notícias e opiniões em contrárias ao sistema eleitoral brasileiro. Nesse sentido, é importante destacar que 69% dos brasileiros consideram a Justiça Eleitoral muito importante para o funcionamento da democracia no país, segundo os dados da pesquisa de setembro de 2022.

Em 2018, aqueles que afirmaram ter muita confiança na honestidade da contagem de votos no Brasil eram 11%.; em 2021, esse percentual já era de 23%, o que indica que a tendência de alta não é exclusividade do contexto recente. No entanto, esse resultado intensificou-se entre 2021 e 2022, apresentando elevação superior dos percentuais em menor tempo. Nesse contexto, o patamar de muita confiança chegou a 31% em junho de 2022 e alcançou 35% em setembro do mesmo ano, isto é, conservou-se em crescimento às vésperas da eleição.

Ao mesmo tempo, as taxas de nenhuma confiança entraram em queda, partindo de 54% em 2018 e chegando a 29% em setembro de 2022. No que tange às categorias intermediárias, enquanto o percentual de pouca confiança diminuiu a partir de 2021, confiar mais ou menos cresceu, mantendo-se os patamares de ambas as respostas estáveis em 2022. Nesse sentido, é importante destacar que, em razão da formulação escalar das alternativas de resposta, confiar mais ou menos tem maior proximidade com a confiança do que com confiar pouco.

Fonte: A cara da democracia (INCT-IDDC) (2022).

 

Ainda, ao desagregar os dados de 2022 a partir de uma variável capaz de isolar bolsonaristas e petistas do restante do eleitorado, encontramos diferenças importantes. Os bolsonaristas representaram 13% do total da amostra, em junho de 2022, e 16% em setembro. Os petistas, por sua vez, responderam por 13% e 14%, respectivamente. Como esperado, encontramos resultados mais elevados de desconfiança na honestidade da contagem dos votos entre os bolsonaristas, indicando congruência entre o discurso do presidente Jair Bolsonaro e a opinião de seus apoiadores. Em sentido inverso, os maiores percentuais de muita confiança foram encontrados entre os petistas. 

A desconfiança chegou a ser duas vezes maior entre os bolsonaristas em relação aos petistas em junho deste ano. No entanto, os resultados mostram que, enquanto os patamares de nenhuma confiança mantiveram-se estáveis entre os petistas entre junho e setembro, entre os bolsonaristas, eles decresceram no mesmo período, passando de 47%, em junho, para 37%, em setembro. A menos de um mês da eleição, o percentual de muita confiança sustentou-se em crescimento em setembro, inclusive entre os bolsonaristas. As categorias intermediárias de resposta mantiveram-se estáveis. 

Portanto, em que pese o patamar de pessoas afirmando não ter nenhuma confiança na honestidade da contagem de votos ser alto no Brasil, o resultado temporal sugere que o cenário que antecede a eleição de 2022 é mais favorável no que diz respeito à validação dos procedimentos democráticos eleitorais pelo público, se comparado à contextos anteriores. 

 

Valéria C. Cabrera é doutora em Ciência Política pela UFPel e pós-doutoranda no Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp.

PT impacta diretamente as decisões de 30% dos eleitores; segundo colocado é o PL, com 4%

PT impacta diretamente as decisões de 30% dos eleitores; segundo colocado é o PL, com 4%

Otávio Z. Catelano e Petra Pinheiro e Silva*

Publicado no Pulso

Especialistas costumam estudar o impacto da identificação partidária na tomada de decisões dos eleitores. É, historicamente, um dos mais eficazes preditor de voto, o que significa que gostar ou não de um deperminado partido amplia muito as chances do eleitor votar – ou não – em seus candidatos.

No Brasil, as taxas de identificação partidária costumam ser baixas em relação a outros países da América Latina. Em 2020, o país possuía 21% de eleitores que se sentiam próximos de partidos políticos, enquanto o Uruguai e a República Dominicana lideravam com taxas de 59% e 52%, respectivamente, Segundo dados do Instituto Latinobarómetro, sediado no Chile.

O impacto do PT nas decisões do eleitorado brasileiro tem sido foco desse debate desde sua criação, tendo seu ápice com a vitória de Lula em 2002. Em compensação, o antipetismo cresceu ao longo dos governos Lula e Dilma, tornando-se presente no debate político e influenciando processos como o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a derrota de Fernando Haddad em 2018. 

A pesquisa nacional A Cara da Democracia, realizada em junho pelo Instituto da Democracia (INCT-IDDC), uma das mais recentes sobre o tema, mostra que atualmente apenas 20% dos eleitores brasileiros se identificam com algum partido político. Entre eles, o PT é o partido com maior pontuação, sendo o preferido de 13% dos eleitores. 

FONTE: Pesquisa “A cara da democracia”, com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país, em junho de 2022. INCT/IDDC, com as universidades UFMG, Unicamp, UnB e UERJ, CNPq/Fapemig. NOTAS: “Não sabe” = 1,1% e “Não respondeu” = 0,3%.

O segundo colocado é o PL, optado preferencialmente por 2% do eleitorado. No entanto, essa pontuação diz mais sobre a identificação com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Em 2018, por exemplo, as taxas de identificação com o PSL subiram no período próximo às eleições, mas foram reduzidas assim que o presidente deixou o partido.

Atualmente, cientistas políticos têm estudado também o anti-partidarismo, isto é, os eleitores que não se identificam com nenhum partido, mas rejeitam uma legenda específica. Neste quesito, pode-se dizer que também são impactados diretamente pelo partido rejeitado, mesmo que negativamente. No Brasil, 27% do eleitorado rejeita algum partido específico. O PT também lidera este “ranking”, com 17% de anti-identificação.

FONTE: Pesquisa “A cara da democracia”, com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país, em junho de 2022. INCT/IDDC, com as universidades UFMG, Unicamp, UnB e UERJ, CNPq/Fapemig. NOTAS: “Não sabe” = 1,9% e “Não respondeu” = 0,3%.

Os dados apontam, portanto, que o PT impacta as decisões de 30% dos eleitores, seja de forma positiva ou negativa. Esta pontuação representa 26 pontos percentuais a mais do que o segundo colocado, o PL, com 4%. Isso demonstra como o PT é o partido político mais influente do país, o que justifica sua posição central em todas as eleições presidenciais brasileiras desde a redemocratização.

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).

Petra Pinheiro e Silva é bacharela em Ciências Sociais pela Unicamp e pesquisadora do Cesop.

 

Rejeição a Lula atinge 44% entre eleitores homens, maior patamar em 20 anos

Rejeição a Lula atinge 44% entre eleitores homens, maior patamar em 20 anos

Andressa Rovani*

Quatro em cada dez homens no Brasil afirmam não votar de jeito nenhum em Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pesquisa Datafolha de intenção de voto realizada entre 30 de agosto e 1º de setembro deste ano. A taxa de rejeição ao petista atingiu a marca de 44%, dez pontos percentuais acima do verificado quatro anos antes e novo pontos percentuais à frente das mulheres. É o maior patamar registrado por um candidato do PT entre o eleitorado masculino nos últimos 20 anos, quando são comparados os mesmos períodos da disputa eleitoral.

Historicamente, eram as mulheres que concentravam a maior parcela de rejeição aos nomes do PT em disputas presidenciais. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente da República pela primeira vez, por exemplo, 35% das eleitoras afirmaram, em momento semelhante da disputa, não votar em Lula de jeito nenhum, contra 27% dos homens.

Como é possível analisar no gráfico, 2014 representa um ponto de virada na rejeição masculina ao PT.  Naquele ano, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) buscava a reeleição, eleitores homens e eleitoras mulheres apresentam a mesma taxa de rejeição à petista: 34%. A partir daí, são os homens que passam a liderar a rejeição aos candidatos do PT.

A virada ocorrida a partir de 2014 coincide com o aumento da percepção da corrupção como principal problema do país, sobretudo entre os homens. Durante os dois mantados do ex-presidente Lula, a escolha da corrupção como maior entrave do país era escolha de 4% da população brasileira em 2003. No final do segundo mandato de Lula, em 2010, a taxa era de 6%, atrás de preocupações como saúde. 

Essa taxa subiu para 9% ao final dos quatro primeiros anos de governo de Dilma Rousseff, em 2014. Mas é ao longo de 2015, já no segundo ano de Operação Lava Jato, que a corrupção passa a ser vista como nosso principal problema, citada por 34% dos entrevistados. Naquela época, os homens já se demonstravam mais sensíveis à questão (39%) em relação às mulheres (28%). 

Em pesquisa Datafolha feita pouco antes do segundo turno de 2018, 12% dos homens afirmavam que o combate à corrupção era o motivo que os levaria a votar em Jair Bolsonaro, contra 7% das eleitoras mulheres.

Passados sete anos, em 2022 a identificação da corrupção como principal mazela voltou ao patamar de 5%, segundo levantamento feito em março deste ano pelo Datafolha. A taxa entre homens é o dobro da registrada entre mulheres, mas saúde e economia lideram a lista. Na disputa liderada por Lula e Bolsonaro, 8% dos eleitores e eleitoras que declaram voto em Bolsonaro veem a corrupção como principal problema do país, o dobro da taxa registrada entre eleitores de Lula (4%), segundo pesquisa Quaest (https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2022/09/indecisos-concordam-mais-com-eleitores-de-lula-do-que-com-os-de-bolsonaro-sobre-principal-problema-do-pais.ghtml).

Entre as mulheres, a rejeição a Lula é a mesma registrada há 20 anos: 35% das eleitoras dizem não votar no candidato do PT de jeito nenhum. Ao longo desse período, a taxa oscilou, considerando momentos semelhantes da disputa, entre 35% e 29%. Em 2010, quando Lula buscava fazer de Dilma Rousseff sua sucessora, a candidata registrava em agosto daquele ano rejeição de 21% entre mulheres e de 18% entre homens, fruto da ainda incompleta associação entre os dois nomes. A pesquisa do Datafolha já indicava, entretanto, que 29% eleitores não votariam em um candidato que fosse indicado pelo então presidente Lula. 

Apesar do crescimento da rejeição ao candidato do PT entre homens, Bolsonaro se mantém como candidato mais rejeitado pelos eleitores brasileiros em 2022, em ambos os sexos. Entre os homens, a taxa é de 48%, o que indica um possível empate no limite da margem de erro, de 2%, com a taxa de rejeição masculina a Lula. Já entre as mulheres, 53% declaram não votar em Bolsonaro de jeito nenhum, 20 pontos percentuais a mais do que a rejeição a Lula.

Em todos os casos, as respostas foram dadas à pergunta “Em quais desses possíveis candidatos _____ você não votaria de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente deste esse ano? E qual mais?” ou semelhante a ela, podendo o entrevistado indicar mais de um nome.

 

*Andressa Rovani é doutoranda em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).