Otávio Z. Catelano e Petra Pinheiro e Silva*

Publicado no Pulso

Especialistas costumam estudar o impacto da identificação partidária na tomada de decisões dos eleitores. É, historicamente, um dos mais eficazes preditor de voto, o que significa que gostar ou não de um deperminado partido amplia muito as chances do eleitor votar – ou não – em seus candidatos.

No Brasil, as taxas de identificação partidária costumam ser baixas em relação a outros países da América Latina. Em 2020, o país possuía 21% de eleitores que se sentiam próximos de partidos políticos, enquanto o Uruguai e a República Dominicana lideravam com taxas de 59% e 52%, respectivamente, Segundo dados do Instituto Latinobarómetro, sediado no Chile.

O impacto do PT nas decisões do eleitorado brasileiro tem sido foco desse debate desde sua criação, tendo seu ápice com a vitória de Lula em 2002. Em compensação, o antipetismo cresceu ao longo dos governos Lula e Dilma, tornando-se presente no debate político e influenciando processos como o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a derrota de Fernando Haddad em 2018. 

A pesquisa nacional A Cara da Democracia, realizada em junho pelo Instituto da Democracia (INCT-IDDC), uma das mais recentes sobre o tema, mostra que atualmente apenas 20% dos eleitores brasileiros se identificam com algum partido político. Entre eles, o PT é o partido com maior pontuação, sendo o preferido de 13% dos eleitores. 

FONTE: Pesquisa “A cara da democracia”, com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país, em junho de 2022. INCT/IDDC, com as universidades UFMG, Unicamp, UnB e UERJ, CNPq/Fapemig. NOTAS: “Não sabe” = 1,1% e “Não respondeu” = 0,3%.

O segundo colocado é o PL, optado preferencialmente por 2% do eleitorado. No entanto, essa pontuação diz mais sobre a identificação com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Em 2018, por exemplo, as taxas de identificação com o PSL subiram no período próximo às eleições, mas foram reduzidas assim que o presidente deixou o partido.

Atualmente, cientistas políticos têm estudado também o anti-partidarismo, isto é, os eleitores que não se identificam com nenhum partido, mas rejeitam uma legenda específica. Neste quesito, pode-se dizer que também são impactados diretamente pelo partido rejeitado, mesmo que negativamente. No Brasil, 27% do eleitorado rejeita algum partido específico. O PT também lidera este “ranking”, com 17% de anti-identificação.

FONTE: Pesquisa “A cara da democracia”, com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país, em junho de 2022. INCT/IDDC, com as universidades UFMG, Unicamp, UnB e UERJ, CNPq/Fapemig. NOTAS: “Não sabe” = 1,9% e “Não respondeu” = 0,3%.

Os dados apontam, portanto, que o PT impacta as decisões de 30% dos eleitores, seja de forma positiva ou negativa. Esta pontuação representa 26 pontos percentuais a mais do que o segundo colocado, o PL, com 4%. Isso demonstra como o PT é o partido político mais influente do país, o que justifica sua posição central em todas as eleições presidenciais brasileiras desde a redemocratização.

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).

Petra Pinheiro e Silva é bacharela em Ciências Sociais pela Unicamp e pesquisadora do Cesop.