Vítor Sandes*

Publicado na revista Nordeste

 

O Piauí é o estado mais lulista do país, segundo a pesquisa do IPEC. Lula lidera as pesquisas no estado com 69%, contra 15% para Bolsonaro. Em termos estratégicos, um candidato competitivo ao governo do estado, mesmo se for bolsonarista, não deve explicitar vínculos ao atual presidente e à sua candidatura. Existem fortes incentivos para que os candidatos se ancorem na candidatura de Lula ou, ao menos, não se posicionem claramente sobre o pleito presidencial durante a campanha. 

 

Do lado fortemente alinhado a Lula, há o candidato Rafael Fonteles (PT). Seu partido tem um amplo domínio no estado do Piauí. Wellington Dias (PT) foi eleito a primeira vez para o governo do estado em 2002, no mesmo ano da primeira eleição de Lula à presidência da República. De lá para cá, Dias foi vitorioso em outros três pleitos para o executivo estadual: 2006, 2014 e 2018. Foi eleito também ao Senado Federal em 2010. 

 

Este ano, Dias será novamente candidato a senador, após se desincompatibilizar do cargo de governador. Assim, assumiu o seu lugar a vice-governadora, também do PT, Regina Sousa. No entanto, Sousa não será a candidata ao governo do estado do Piauí, mas sim o ex-secretário da Fazenda do estado, Rafael Fonteles. O candidato petista nunca disputou cargos eletivos, mas é um empresário conhecido na capital piauiense, Teresina, e tem vínculos históricos com o PT. É filho do também político histórico do partido, ex-deputado estadual e federal, Nazareno Fonteles. Como esperado, a imagem de Rafael Fonteles tem sido constantemente associada à do ex-presidente petista durante a campanha eleitoral.

 

Em oposição a Fonteles, a principal candidatura competitiva é a de Sílvio Mendes, ex-prefeito de Teresina (à época, filiado ao PSDB) por duas oportunidades (2005-2008 e 2009-2010). Foi candidato ao governo do estado em disputa contra Wilson Martins (PSB), apoiado por Wellington Dias. Em 2014, foi candidato a vice-governadorna chapa encabeçada pelo então governador Zé Filho (PMDB), tendo sido derrotado novamente, desta vez para Wellington Dias. Neste pleito, Mendes se coloca novamente na disputa estadual, desta vez pelo União Brasil. Como candidata a vice, a chapa conta com Iracema Portella, deputada federal pelo PP.

 

A presença do PP na chapa de Mendes colocaria sua candidatura como, automaticamente, alinhada à candidatura presidencial de Bolsonaro, sobretudo porque Ciro Nogueira, um dos fiadores da aliança União Brasil-PP no estado, bem como um dos maiores apoiadores da candidatura de Mendes, é o atual ministro-chefe da Casa Civil, a principal pasta política do governo Bolsonaro. 

 

No entanto, Mendes tem buscado se desvincular de Bolsonaro e, consequentemente, a disputa estadual da presidência. Do lado da candidatura petista, a busca é pela nacionalização da disputa estadual. Se isso acontecer, o candidato petista tem grandes chances de crescer nas pesquisas e se tornar mais viável eleitoralmente. As pesquisas realizadas no estado têm apontado resultados divergentes entre si. Para utilizar uma pesquisa que é aplicada nacionalmente em outros estados, a do IPEC, realizada no estado ainda no início da campanha eleitoral (entre os dias 19 e 21 de agosto), coloca Silvio Mendes em primeiro com 38%, e Rafael Fonteles com 23%, em segundo. 

 

O único candidato que defende, explicitamente, o legado bolsonarista, colocando-se como palanque para o presidente, tem sido o Coronel Diego Melo, filiado ao mesmo partido de Jair Bolsonaro, o PL. Ter palanque bolsonarista, mesmo em um estado fortemente lulista, busca contribuir para a mobilização da base de apoio ao presidente; ainda que bastante reduzido. O candidato apareceu com 2% da preferência dos eleitores na pesquisa supracitada do IPEC. 

 

Além de Melo, outros candidatos também aparecem nas pesquisas, mas com baixo potencial eleitoral: Gessy Lima (PSC), com 3%; Geraldo Carvalho (PSTU) e Gustavo Henrique (Patriota), ambos com 2%; e Lourdes Melo (PCO), Madalena Nunes (PSOL) e Ravenna Castro (PMN), com 1% cada uma delas. 

 

A força de Lula é indiscutível no estado e, definitivamente, ele aparecerá recorrentemente nos debates e na campanha. No entanto, ainda é preciso aguardar o andamento da campanha e as próximas pesquisas eleitorais para sabermos qual estratégia surtiu mais efeito junto ao eleitorado piauiense: se a da estadualização do pleito ou se a da presidencialização.

 

Vitor Sandes é: Doutor em Ciência Política (UNICAMP) e Professor Adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI)