Priscila Lapa e Luciana Santana*

Publicado na Revista Nordeste

O cenário da disputa para o Governo de Pernambuco em 2022 não traz exatamente novidades no que tange ao número de mulheres candidatas. Dos dez postulantes, três são mulheres: Marília Arraes (Solidariedade); Raquel Lyra (PSDB) e Cláudia Ribeiro (PSTU). Em 2018, o número era proporcionalmente maior: três entre sete candidatos (Dani Portela, PSOL; Simone Fontana, PSTU e Ana Patrícia Alves, PCO). Para o Senado, na eleição anterior, dos doze candidatos, eram quatro mulheres (Albanise, PSOL; Eugênia, PSOL; Adriana Rocha, REDE e Lidia Brunes, PROS). Nenhuma delas se elegeu. Em 2022, dos nove postulantes, quatro são mulheres (Teresa Leitão, PT; Roberta Rita, PCO;  Eugênia Lima, PSOL e Dayse Medeiros, PSTU). 

Há maior presença das mulheres nas eleições no estado como candidatas a vice-governadora. Das dez candidaturas em disputa, oito têm mulheres como vice. Na chapa governista, que tem o deputado federal Danilo Cabral (PSB) como candidato, foi escolhida como vice a atual vice-governadora do estado Luciana Santos. O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL) escolheu como vice Izabel Urquiza, que foi secretária de desenvolvimento econômico de Olinda. O candidato da União Brasil Miguel Coelho escolheu a deputada estadual Alessandra Vieira como vice.

O Partido da Mulher Brasileira (PMB) tem como candidato Jadílson “Bombeiro”, sargento do Corpo de Bombeiros Militares de Pernambuco, e, como vice,  a bombeira militar Rose Viana. Já a federação partidária formada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pela Rede Sustentabilidade (Rede) lançou o advogado João Arnaldo (PSOL) para governador e para vice Alice Gabino (Rede). Jones Manoel, do PCB, tem como vice a assistente social Raline Almeida. A ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB) escolheu como vice a deputada estadual Priscila Krause (CD). Outra mulher que concorre a vice é a advogada petrolinense Carol Tosaka, que compõe a chapa de Wellington Carneiro (PTB)

 

Desempenho das mulheres nas pesquisas de opinião

 

Até o momento, as pesquisas de opinião apontam como favoritas duas mulheres: Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB), ainda que a segunda colocação permaneça indefinida, de acordo com as pesquisas de opinião realizadas ao longo do mês de agosto. 

Na última rodada da pesquisa IPEC, divulgada em 30/08, Marília Arraes aparecia na liderança com 33% das intenções de voto, seguida pela ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, que pontuou 12%. O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, marcou 11%. Esses percentuais são bem próximos dos apontados pelo Agregador de Pesquisas JC/Oddspointer, que realiza o cálculo da média de todas as pesquisas de intenção de votos para governador em Pernambuco. Os dados do dia 5 de setembro mostravam estabilidade na disputa, com Marília atingindo 32,9% de intenção de votos, imediatamente seguida por Lyra, com 11,7%. O terceiro colocado, Anderson Ferreira, teria 10,9%.

Marília Arraes vem ocupando protagonismo político no estado há alguns ciclos eleitorais. O ato de saída do PT para disputar o governo pelo Solidariedade, em março deste ano, é, até o momento, um dos pontos de destaque das eleições de 2022. Quem acompanhou a disputa para prefeitura do Recife, em 2020, lembra como Marília se afirmou como liderança política, ainda que não tenha sido vencedora nas urnas. Antes disso, ela já era uma personagem pelo qual passavam as relações entre o PT e o PSB de Pernambuco. Todas as vezes em que se colocava como candidata, aparecia como favorita, para desespero de adversários e aliados.

É sabido que a renovação da aliança entre socialistas e petistas, em 2018, passou pela decisão do PT de barrar as intenções de Marília ser candidata ao executivo estadual. Naquele ano, elegeu-se deputada federal, com a segunda maior votação do estado (193.108 votos), ficando atrás apenas do seu primo João Campos (PSB), com quem disputaria, dois anos depois, o segundo turno da eleição na capital. Após uma disputa marcada pelos ataques, Marília passou a demonstrar insatisfação pela forma como o PT, até então seu partido, mantinha aliança com o PSB, o que certamente faria com que, possivelmente, suas pretensões fossem novamente sacrificadas em nome da aliança.

Desde que anunciou sua candidatura pelo Solidariedade, Marília Arraes é a candidata líder em intenções de voto em todas as pesquisas. Antes, a liderança era de Raquel Lyra (PSDB), que foi deputada estadual e secretária da infância e juventude, no governo Eduardo Campos, além de ter sido reeleita prefeita de Caruaru, em 2020, com 114.466 votos (66,86%) do total. A tucana foi a primeira mulher a assumir a gestão do município, quando foi eleita em 2016. Como candidata a governadora, Lyra enfrenta o desafio da divisão de votos da oposição entre candidatos com um perfil e posicionamento político, até certo ponto, similar ao seu, como é o caso de Miguel Coelho (União Brasil) e Anderson Ferreira (PL), igualmente lideranças jovens e com experiência no executivo municipal atestada pelas urnas.

Apoiadora de Simone Tebet (MDB), Raquel tem fugido do discurso nacionalizado, afirmando que “o que importa é discutir os problemas da vida real”. Sua principal adversária, Marília Arraes (Solidariedade) caminha no sentido oposto: traz o ex-presidente Lula (PT) como principal cabo eleitoral, apesar de Danilo Cabral (PSB) ser o candidato oficial de Lula. Na visita que realizou ao estado, o presidenciável pôde presenciar que o palanque da Frente Popular tem um desafio duplo: desconstruir o discurso da oposição protagonizada pelo trio Raquel/Anderson/Miguel; e vencer a potência que a candidatura de Marília Arraes assumiu, ao agregar lideranças políticas insatisfeitas com o desgaste do material político do PSB.

 

O protagonismo feminino na disputa pelo governo pernambucano

 

Independentemente do resultado no próximo mês de outubro, esta já é a disputa com maior protagonismo das mulheres na história do estado. Não exatamente com uma agenda essencialmente feminista, essas lideranças cumprem um papel importante no rompimento da cultura que determina às mulheres um espaço secundário na política. Jovens, impõem a sua presença não apenas pela herança política que carregam (ambas têm origem política familiar), mas pela demonstração de protagonismo na condução das suas trajetórias. Bancando suas escolhas, elas provam que outros tons são possíveis e desejáveis nas disputas atuais.

Priscila Lapa é doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco, possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) e em Serviço Social. Professora na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO) e Analista Técnica no SEBRAE-PE, atuando na área de Políticas Públicas. 

 

Luciana Santana é professora da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Mestre e doutora em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com período sanduíche na Universidade de Salamanca (Espanha). Líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia e diretora da regional Nordeste da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política).