Monalisa Torres, Nathanael Rodrigues, Davi Sousa e Lilian Cavalcante*

 

Foi dada a largada para a corrida ao Palácio da Abolição no Ceará. E após as definições dos partidos, temos os seguintes nomes disputando o cargo de governador e vice, respectivamente: Capitão Wagner (UB) e Raimundo Gomes de Matos (PL); Roberto Cláudio (PDT) e Domingos Filho (PSD); Elmano de Freitas (PT) e Jade Romero (MDB); Zé Batista (PSTU) e Reginaldo Araújo (PSTU); Chico Malta (PCB) e Nauri Araújo (PCB); Serley Leal (UP) e Bita Tapeba (UP). Dessas, as três primeiras candidaturas mostram-se mais competitivas pelo tamanho das coalizões que conseguiram montar e pelos apoios que têm agregado capital político aos seus postulantes. 

Aliado do presidente Bolsonaro (PL), Capitão Wagner consolidou-se como o principal nome da oposição no estado do Ceará. Com forte base eleitoral na capital, lidera as pesquisas de intenção de votos e conta com apoio de seis partidos (União Brasil, PL, Avante, Republicanos, PTB, PODEMOS), que em número de prefeituras soma 16 municípios.

Partidário de Ciro Gomes, Roberto Cláudio (PDT), foi prefeito de Fortaleza e conta também com o apoio de Tasso Jereissati (PSDB). Seu candidato a vice, Domingos Filho, é líder do PSD no Ceará, segundo partido em número de prefeituras. Sua coligação reúne nove siglas (PDT, PSD, PSB, PSC, Patriota, PMN, Agir, DC e PMB), que, somadas, administram 95 prefeituras. 

Por sua vez, Elmano de Freitas (PT), cujo palanque contará com as presenças de Lula e do ex-governador Camilo Santana, compôs uma aliança com nove partidos (PT, MDB, PV, PSOL, PCdoB, PP, Solidariedade, REDE, PRTB), que somados chegam a 61 prefeituras.

 

Os primeiros dias de campanha 

Os primeiros dias de campanha já ofereceram importantes indicativos das estratégias a serem adotadas pelos candidatos ao executivo estadual cearense: a presença forte na capital, Fortaleza, demonstrando a necessidade de ganhar terreno no maior colégio eleitoral do estado, mas também a busca por apoios dos prefeitos dos municípios do interior. 

Observadores das eleições concordam que para um candidato ao governo manter-se competitivo, precisa atingir, no mínimo, 1/3 das intenções de votos na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) para garantir apoio dos prefeitos do interior. Do contrário, corre-se o risco de ver sua base política esvaziar-se. 

Aqui cabe uma lembrança: na história recente do Ceará, as eleições majoritárias mais competitivas foram resolvidas conquistando-se os votos das bases eleitorais do interior. Foi assim que, em 2002, Lúcio Alcântara (PSDB) foi eleito governador em segundo turno. Ou em 2014, quando de virada Camilo Santana (PT) conquista seu primeiro mandato para o executivo cearense. Ou ainda, em 2018, quando Eunício Oliveira (MDB) não é reeleito ao senado em virtude de ter perdido parte de sua base eleitoral no interior.

Outra especificidade das eleições cearenses tem sido a vitória de oposições que derivam de rachas nas bases governistas. Para ficar num exemplo mais recente, citamos o caso de Cid Gomes (PSB) em 2006. Na época, Cid deixou a base do governo Lúcio Alcântara (PSDB), que tentou reeleição, para se colocar como alternativa ao ex-aliado. Com apoio informal de Tasso Jereissati (PSDB), Cid Gomes foi eleito governador ainda no primeiro turno das eleições, vencendo em 164 dos 184 municípios cearenses.

As eleições de 2022 parecem repetir os padrões assinalados acima: 1) a atenção dos candidatos para a contrução de rede de apoio nos municípios do interior e 2) candidaturas fortes que nascem da fragmentação da base governista. Ainda que estejamos no início das campanhas eleitorais, esses dois elementos combinados a um fato inédito na política cearense (a declaração de neutralidade da governadora Izolda Cela, atualmente sem partido), têm produzido um cenário de acirramento e incertezas quanto aos nomes que seguirão para o segundo turno na corrida pelo Palácio da Abolição. 

O racha da base governista e o reposicionamento das bases eleitorais

No momento da escrita desse artigo, dos 184 prefeitos cearenses, oito afirmaram comprometer-se com o candidato Capitão Wagner. Outros 73 oficializaram apoio a Roberto Cláudio e cem prefeitos declararam-se apoiadores de Elmano de Freitas. Apenas quatro prefeitos ainda não oficializaram apoio a nenhum dos postulantes ao governo, dentre eles o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT). Outro dado que chama atenção é que 21 prefeitos de siglas que compõem a base de Roberto Cláudio apoiam a candidatura de Elmano e uma prefeita mudou de legenda (do PSD para o MDB) para declarar apoio ao candidato petista. Essas “infidelidades” também ocorrem do lado de Wagner, que viu cinco prefeitos de partidos coligados apoiarem adversários e outros três que ainda não declararam seu apoio (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de apoio – eleições 2022 no Ceará

Fonte: elaboração própria.

 

Obviamente esses números poderão mudar até a reta final das campanhas eleitorais, sobretudo após o início do horário eleitoral gratuito no rádio e TV. No entanto, cabe fazer um destaque para a fragmentação da base governista após o racha entre PDT e PT (ver em artigo link ) e do papel que lideranças como Domingos Filho (PSD), de um lado, e Eunício Oliveira (MDB) e Camilo Santana (PT), de outro, têm exercido na costura da base política junto aos prefeitos cearenses.

 O que as pesquisas indicam?

Nos dois últimos levantamentos de intenção de votos, Wagner permanece na liderança e Roberto Cláudio e Elmano de Freitas aparecem empatados tecnicamente. 

Segundo a pesquisa Real Time Big Data, divulgada em 22 de agosto, Wagner apresenta crescimento, de 35% para 38% das intenções de votos. Roberto Cláudio perde 5%, marcando 23% no último levantamento. Elmano sobe de 20% para 24%. Brancos e nulos somaram 7%. Não souberam ou não responderam, 5%. 

Na pesquisa IPESPE/O Povo, de 25 de agosto, Wagner oscilou um ponto para baixo, de 38% para 37% das intenções de voto. Roberto Cláudio também oscilou negativamente dentro da margem de erro, aparecendo com 28% no primeiro levantamento e 25% no segundo.  Elmano foi o único que apresentou evolução, empatando tecnicamente com o ex-aliado, subindo de 13% para 20% das intenções de votos. Brancos e nulos somaram 10%. Não souberam ou não responderam, 7%.

Até o momento, na disputa pelos espólios da base governista, Camilo Santana parece ter logrado os melhores resultados. É o que indica o mapa de apoio e o crescimento de Elmano nas pesquisas de intenção de votos, sobretudo entre os respondentes do interior do estado. Sem o trabalho de composição do habilidoso senador Cid Gomes (PDT), Roberto Cláudio precisará demonstrar a mesma habilidade que mobilizou na campanha vitoriosa de Sarto Nogueira (PDT) à prefeitura de Fortaleza em 2020.

A eleição de 2022, de partida, já se mostra bastante competitiva. O resultado poderá selar o destino do grupo político dos Ferreira Gomes no Ceará. 

 

*Monalisa Torres é professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará. Doutora em Sociologia pela UFC. Pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM-UFC).

Nathanael Rodrigues é aluno de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará. Bolsista IC/UECE vinculado ao projeto “Pactos na cena política cearense: dinâmica de funcionamento de grupos políticos no contexto de transição de ciclos políticos no Ceará”

Davi Sousa é aluno de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará. Bolsista ICT/Funcap vinculado ao projeto “Pactos na cena política cearense: dinâmica de funcionamento de grupos políticos no contexto de transição de ciclos políticos no Ceará”

Lilian Cavalcante é aluna de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará. Pesquisadora voluntária vinculada ao projeto “Pactos na cena política cearense: dinâmica de funcionamento de grupos políticos no contexto de transição de ciclos políticos no Ceará”