As disputas para os governos estaduais na reta final do 2º turno

As disputas para os governos estaduais na reta final do 2º turno

Luciana Santana e Marta Mendes da Rocha

Publicado no JOTA

Nas eleições para os governos estaduais, 15 dos 27 estados definiram a eleição no primeiro turno. Em outros 12 estados a decisão será conhecida neste domingo (30). É o caso de Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Neste artigo, analisamos a possibilidade de vitória dos candidatos(as) a partir das pesquisas mais recentes realizadas pelo Ipec, divulgadas entre 11 e 28 de outubro.

Disputas nacionalizadas no Sudeste

No Sudeste, dois estados decidirão seus governadores neste domingo e em ambos a disputa segue nacionalizada. No Espírito Santo, contrariando as pesquisas que indicavam a reeleição de Renato Casagrande (PSB) no primeiro turno, a decisão foi adiada e o governador enfrenta o ex-deputado federal Carlos Manato (PL).

A última pesquisa Ipec, do dia 21 de outubro, dava uma vantagem de 9 pontos para Casagrande (49 x 40 nas intenções de voto, correspondendo a 55 x 45 dos votos válidos). Apesar da dianteira do aliado de Lula, Bolsonaro está na frente no estado, com 51% das intenções de voto contra 41% do petista. No primeiro turno, o governador ofereceu um apoio apenas discreto a Lula porque sabia que poderia precisar dos votos dos eleitores de Bolsonaro. No segundo turno, contudo, o cenário tendeu a se nacionalizar com a presença de um desafiante claramente alinhado ao presidente.

Em São Paulo, a disputa entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) reproduz com força a polarização da eleição presidencial. Haddad terminou o primeiro turno com 35,7% dos votos válidos, atrás de Tarcísio de Freitas com 42,3%, contrariando o que indicavam todas as principais pesquisas. Segundo pesquisa Ipec do dia 25 de outubro, na reta final da campanha, os candidatos aparecem empatados tecnicamente, com 46% de Tarcísio contra 43% de Haddad, equivalente a 52% x 48% em votos válidos. Na pesquisa espontânea, na qual não são lidos os nomes dos candidatos, eles também estão muito próximos, com Tarcísio à frente com 35% contra 32% de Haddad.

O ex-ministro de Bolsonaro busca colar cada vez mais sua imagem à do presidente e conta com apoio do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que terminou o 1º turno em terceiro lugar. Haddad, por sua vez, tenta explorar a seu favor a ideia de que Tarcísio não conhece São Paulo e o acontecimento recente envolvendo a equipe de campanha de Tarcísio em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Há indícios de que a equipe possa ter tentado forjar um atentado em evento que resultou na morte de Felipe Silva e Lima, de 28 anos. Um dos seguranças de Tarcísio teria sido o responsável pela morte. Além disso, a campanha foi acusada de tentar destruir provas. A pesquisa a ser divulgada pelo Ipec às vésperas da eleição dirá se este fato impactou o eleitorado contra Tarcísio e a favor de Haddad. Contudo, não se pode subestimar a força do antipetismo no estado: segundo a última pesquisa Ipec, Haddad apresenta 43% de rejeição contra 31% de Tarcísio. Esta pesquisa também mostrou empate técnico entre Bolsonaro (47% das intenções de voto) e Lula (44%).

Entre o bolsonarismo e a neutralidade em disputas nos estados do Sul

No Sul do país, em dois estados a disputa será decidida no segundo turno. Em Santa Catarina o cenário não traz muitas surpresas. O senador Jorginho Mello (PL), que terminou o primeiro turno à frente com 38,6% dos votos válidos, lidera as pesquisas na segunda rodada. Ele aparece na última pesquisa Ipec (18 de outubro) com 59% das intenções de voto contra 26% do ex-deputado federal e ex-prefeito de Blumenau, Décio Lima (PT). Em votos válidos Jorginho tem 69% contra 31% do petista.

O cenário não surpreende devido à força da direita e de Bolsonaro no estado. No primeiro turno, Bolsonaro venceu em 263 cidades catarinenses ante 32 de Lula, e teve 62,2% dos votos válidos contra 29,5% do ex-presidente. O candidato alinhado a Bolsonaro recebeu o apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno (com exceção do PDT) e das principais forças políticas do estado. Assim, embalado no fortalecimento de uma direita mais ideológica e na força de Bolsonaro, Jorginho não deve encontrar problemas para confirmar seu favoritismo no próximo domingo.

No Rio Grande do Sul, depois da surpresa do primeiro turno quando o ex-ministro de Bolsonaro Onyx Lorenzoni (PL) terminou à frente com 37,5% dos votos contra 26,81% de Eduardo Leite (PSDB), alguns analistas esperavam o alinhamento de Leite com a candidatura de Lula a nível nacional como forma de atrair os votos da esquerda gaúcha. Este alinhamento não ocorreu. Leite optou por permanecer neutro frente à uma candidatura fortemente alinhada a Bolsonaro, contando que poderia atrair os votos dos lulistas devido à rejeição ao candidato do PL. Sua estratégia pareceu acertada, já que mesmo sem o apoio de Leite, o PT gaúcho declarou voto crítico no candidato do PSDB, visto como alternativa menos pior diante da possibilidade de vitória de um dos principais aliados de Bolsonaro.

Segundo a última pesquisa Ipec, divulgada no dia 28 de outubro, Leite aparece com 50% das intenções de voto contra 40% de Onyx, o correspondente a 56% x 45% dos votos válidos. Se o favoritismo de Leite se confirmar neste domingo, o Rio Grande do Sul reelegerá pela primeira vez um governador desde que esta possibilidade foi introduzida, em 1997, e o PSDB terá garantido uma sobrevida no comando do quinto maior colégio eleitoral do país.

Bolsonarismo vivo na única disputa no Centro-Oeste e nas disputas na região Norte
Único estado da região Centro-Oeste com disputa em segundo turno para o cargo de governador, a eleição em Mato Grosso do Sul tem sido marcada pela força do bolsonarismo, seja no alinhamento de Capitão Contar (PRTB) à candidatura presidencial de Bolsonaro ou por impulsionar a neutralidade de Eduardo Riedel (PSDB). O resultado do primeiro turno no estado refletiu o peso do apoio de Bolsonaro na região, e deixou fora do segundo turno políticos tradicionais do estado. A eleição sul-mato-grossense é uma das mais incertas deste segundo turno e deve ser decidida voto a voto. Segundo a última pesquisa Ipec, os dois candidatos aparecem com 45% das intenções de voto ou 50% dos votos válidos.

Bolsonaro também influencia as duas disputas na região Norte. Em Rondônia, os dois candidatos estão alinhados ao presidente, em uma competição ainda indefinida. De acordo com a última pesquisa Ipec, Marcos Rogério (PL) e Coronel Marcos Rocha (União Brasil) possuem 45% das intenções de voto ou 50% dos votos válidos cada um.

No Amazonas, Wilson Lima (União Brasil) disputa a reeleição contra o ex-governador Eduardo Braga (MDB), com boas chances de ser reconduzido. Na pesquisa Ipec de 21 de outubro, Lima aparece com 53% das intenções de voto contra 41% de Braga, o que significa 56% dos votos válidos contra 44%.

A força da esquerda nas disputas no Nordeste

A movimentação do xadrez político alagoano despertou atenção não apenas no estado, mas de todo o país, seja pelo apoio de lideranças nacionais às candidaturas que disputam o segundo turno, seja por decisões judiciais como a do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que afastou o governador e candidato à reeleição, Paulo Dantas (MDB), ou a da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu, por unanimidade, lhe devolver o mandato no último dia 25 de outubro.

Dantas é o candidato do grupo do senador Renan Calheiros (MDB) e tem hoje apoio de Lula. Na pesquisa Ipec divulgada no dia 20 de outubro, Dantas aparecia com 49% das intenções de voto ante 40% de Rodrigo Cunha (União Brasil). Entretanto, a pesquisa do dia 28 aponta empate técnico entre os dois candidatos, 46% de Dantas contra 42% de Cunha, o que representa, em votos válidos, 52% contra 48%. Apesar do favoritismo de Dantas, o cenário ainda é muito incerto. Seria um caso inédito de virada do segundo colocado no 1º turno sobre o primeiro, já que Cunha teve apenas 26,79% dos votos válidos ante 46,6% de Dantas.

A Bahia é o quarto colégio eleitoral mais importante do país e surpreendeu todos os diagnósticos eleitorais que apontavam a vitória de ACM Neto (União Brasil) em 1º turno. Pela primeira vez a disputa no estado seguiu para o 2º turno, e Jerônimo Rodrigues (PT) terminou a disputa à frente de ACM Neto. A pesquisa Ipec divulgada no dia 21 de outubro mostra uma disputa bastante polarizada. Na pergunta estimulada a diferença entre os dois é de 4 pontos, Jerônimo é citado por 48% dos entrevistados e ACM por 44%. Considerando apenas votos válidos, o petista teria 52% contra 48% de ACM. Apesar do cenário de incerteza, pela trajetória eleitoral desde o primeiro turno, Jerônimo aparece com mais chances de vencer o pleito e manter a hegemonia do PT no estado.

A judicialização da disputa em Sergipe teve reflexos na disputa acirrada entre as candidaturas que disputam o 2º turno. A candidatura de Valmir de Francisquinho (PL) foi impugnada ainda no 1º turno, seu nome apareceu nas urnas, mas seus votos foram invalidados. A disputa ficou entre Rogério Carvalho (PT), sustentado por redes de apoio profissionais, e Fábio Mitidieri (PSD), que manteve palanque neutro e consolidou uma base de apoio formada essencialmente por grupos políticos de base familiar. Na pesquisa de 20 de outubro, o petista aparece com 43% ante 40% de Mitidieri, um resultado apertado quando traduzido em votos válidos: 51% a 49%. Um cenário marcado por muita indefinição no estado.

Além de Fátima Bezerra, reeleita para o Rio Grande do Norte, o Nordeste terá mais uma governadora eleita neste domingo, em Pernambuco, com a disputa entre Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). Raquel, que preferiu não declarar apoio a uma candidatura presidencial, lidera as pesquisas. De forma espontânea é citada por 43% contra 34% de Arraes na pesquisa divulgada no dia 25 de outubro. Na estimulada, a distância entre elas passa a ser de 8 pontos, Raquel tem 51% das intenções de votos contra 43% de Marília, o que corresponde a 54% de votos válidos ante 46%. Nessa toada, o PSDB pode ter uma governadora eleita em Pernambuco.

Na Paraíba, o governador João Azevêdo (PSB) lidera as pesquisas e enfrenta uma situação mais confortável para ser reeleito. A diferença para o seu adversário Pedro Cunha Lima (PSDB) é de 5 pontos, com 47% ante 42% do tucano, o equivalente a 53% dos votos válidos ante 47%.

Apoios aos candidatos no segundo turno

Assim como no primeiro turno, a posição dos candidatos (as) em se alinharem (ou não) às candidaturas presidenciais tornou-se uma estratégia de sobrevivência, com o principal objetivo de ampliar suas bases eleitorais. No segundo turno, dentre os eleitos, 9 declararam apoio a Bolsonaro e 6 a Lula.

Nos demais estados que ainda disputam o segundo turno, 4 deles possuem disputadas polarizadas e alinhadas às candidaturas presidenciais: Amazonas, Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo. Em outros 7 estados, pelo menos uma das candidaturas não oficializou um palanque presidencial: Rodrigo Cunha em Alagoas, ACM Neto na Bahia, Eduardo Riedel em Mato Grosso do Sul, Pedro Cunha Lima na Paraíba, Raquel Lyra em Pernambuco, Fábio Mitidieri em Sergipe e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Em Rondônia, Bolsonaro possui dois palanques, Marcos Rocha e Marcos Rogério.

A neutralidade em alguns palanques parece ter sido uma estratégia eficiente, mas não deve ser o que definirá a situação em alguns estados nos quais fatores locais também impactam na decisão do eleitor.

 

Luciana Santana
Mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e do PPGCP/UFPI, líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Marta Mendes da Rocha
Professora associada do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Política Local (Nepol). Possui doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi pesquisadora visitante na University of Texas at Austin com bolsa da Fulbright Fundation. Web page: martamrocha.com

Qual o impacto dos apoios de candidatos e governadores no segundo turno da eleição presidencial?

Qual o impacto dos apoios de candidatos e governadores no segundo turno da eleição presidencial?

Marta Mendes da Rocha

Publicado no Jota

 

Findado o primeiro turno das eleições, Bolsonaro tem palanque único em onze estados: contabiliza o apoio de governadores eleitos em nove e conta com palanque único em outros dois onde ambos os competidores são seus aliados. Já Lula saiu com o apoio de governadores eleitos em seis estados e vai poder contar com candidatos que lideram as pesquisas em outros três estados onde os concorrentes até agora preferiram permanecer neutros. Em outros cinco a disputa de segundo turno tem tudo para ser bastante nacionalizada com candidatos fortemente alinhados a Lula e a Bolsonaro.

Desde o início da campanha presidencial grande atenção tem sido colocada no movimento dos candidatos na costura de alianças e obtenção de apoios nos estados. Inicialmente, a atenção ficou no número, na consistência e na competitividade das alianças construídas por cada candidato. 

Passado o primeiro turno, a questão central passou a ser quem poderia contar com palanque único e em que estados o segundo turno seria nacionalizado. A energia gasta pelos candidatos na construção das alianças e na busca de apoios nos induzem a pensar que eles importam e podem ser decisivos. 

Mas a verdade é que a Ciência Política não tem uma resposta para isso. Existem poucos estudos que abordam esta questão no contexto brasileiro de modo que é difícil estimar com precisão a importância do apoio do governador ou de um candidato ao governo. 

Nos Estados Unidos, são comuns os estudos sobre o que eles chamam de coattail effect, ou seja, a capacidade de um candidato a um cargo executivo de grande projeção transferir votos para seus co-partidários em outros níveis da disputa. 

Um bom exemplo brasileiro ocorreu no Brasil em 2002,  quando na esteira da vitória de Lula para a presidência, o PT elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados, repetindo o bom desempenho em 2006 e 2010. Algo semelhante deu-se nas eleições de 2018 e 2022, quando PSL e PL tiveram seu desempenho nas eleições legislativas impulsionado pela popularidade de Bolsonaro. 

Outro tipo de transferência de votos mas que não se encaixa no que a literatura considera efeito coattail é a que ocorreu no Brasil nas eleições de 2010 e 2018, quando Lula desempenhou o papel de grande eleitor ao conseguir transferir seu capital político e eleitoral, primeiro para Dilma Rousseff, e depois para Fernando Haddad. Mesmo que este último tenha saído derrotado, foi impressionante a capacidade de transferência de votos de Lula no Nordeste, onde Haddad (ou “Andrade”) ganhou em todos os nove estados, apesar de ser muito pouco conhecido na região.

Há poucas pesquisas sobre transferência de votos no Brasil. Um estudo sobre o caso brasileiro sugere que os eleitores utilizam-se dessas alianças como uma espécie de atalho cognitivo para escolher seus candidatos, baseando-se no posicionamento das lideranças políticas nacionais para tomar suas decisões no nível subnacional. O estudo mostra que, no caso de eleições próximas com um número baixo de candidatos à Presidência, haverá convergência entre os resultados das eleições nacionais e subnacionais. Contudo, outras variáveis são importantes para a compreensão dessa dinâmica. 

Também é comum que candidatos ao Executivo municipal e estadual exibam sua proximidade e bom relacionamento com o presidente ou com um candidato competitivo a presidente como símbolo de prestígio ou um diferencial que pode garantir acesso privilegiado ao governo federal e mais recursos para o município ou estado. Essa estratégia é particularmente importante para municípios e estados pobres e mais dependentes de transferências intergovernamentais. A literatura em Ciência Política apresenta evidências de que o eleitor vota para cargos nacionais com considerações locais em mente e que ele valoriza o alinhamento entre governo subnacional e federal.

Entretanto, no contexto das eleições de 2022, o interesse maior está no efeito inverso (o chamado reverse coattail effect), de baixo para cima, que ocorre quando candidatos no nível local ou estadual desempenham o papel de cabos eleitorais e mobilizam votos para candidatos competindo em níveis superiores. Alguns estudos trazem evidências de coordenação partidária para maximizar votos em diferentes níveis e diferentes rodadas eleitorais. Assim, um desempenho positivo na eleição municipal estaria associado a um desempenho positivo na eleição legislativa dois anos depois. Não há, contudo, evidências inequívocas destes efeitos sobre a eleição para presidente, de modo que não temos como estimar o efeito do apoio de governadores e/ou candidatos ao governo estadual sobre a quantidade de votos obtida pelos candidatos a presidente. Uma análise do segundo turno das eleições de 2018 mostrou convergência nos resultados da eleição para presidente e governador nos 14 estados em que a disputa foi decidida na segunda rodada. Mas este efeito não é o mesmo para todos os casos, sugerindo que existem diferentes mecanismos em operação. 

A pergunta que devemos nos fazer é: como ou sob que condições o apoio do(da) governador(a) e/ou de candidatos(as) ao governo estadual pode ajudar o candidato a presidente e fazer diferença no resultado da eleição? Há algumas formas pelas quais uma liderança política estadual pode ser efetiva em transferir votos.

Popularidade. Uma liderança carismática e popular no estado, com altos índices de aprovação, capital político robusto e confiança entre os eleitores empresta sua confiança e reputação para o candidato a presidente. Uma questão importante é assegurar que a maior parcela do eleitorado seja capaz de associar os dois candidatos, isto é, tem que ficar claro para o eleitor quem esta liderança apoia. O apoio aqui desempenha a função de atalho cognitivo para os eleitores que não querem ou não podem arcar com os custos de informação.

Identificação. A transferência funciona devido a uma forte identificação entre os candidatos, seja porque eles pertencem ao mesmo partido ou porque estão associados com um mesmo programa político, pautas e bandeiras. O limite da transferência, neste caso, está na capacidade de mobilização de votos e na rejeição da liderança estadual. Esta parece ser a forma como Fernando Haddad em São Paulo e Claudio Castro, no Rio de Janeiro, poderiam auxiliar Lula e Bolsonaro, respectivamente. Note que o mecanismo da identificação partidária deve funcionar mais para Lula do que para Bolsonaro,uma vez que o rótulo “PT” aporta muito mais conteúdo e significado para os eleitores do que o rótulo “PL”. Este mecanismo também pode operar nos demais estados onde o PT tem governadores eleitos (RN, CE, e PI) ou na disputa do segundo turno (BA e SC). Para Bolsonaro pode funcionar nos estados em que há governadores ou candidatos fortemente associados às pautas bolsonaristas. Ainda assim, alguém poderia objetar que este seja um mecanismo relevante no segundo turno da eleição de 2022 uma vez que as pesquisas indicam alto grau de consolidação do voto. Em outras palavras, é mais provável que quem apoie um candidato a governador ou um candidato no estado, seja por identificação partidária ou programática, também já apoie seu aliado na disputa pela presidência.

Controle da máquina. Outro mecanismo pelo qual a transferência de votos pode ocorrer é pelo uso da máquina pública, o que se aplica para os governadores em exercício. Neste caso, a transferência não seria tanto resultado da ascendência do governador sobre os eleitores devido à sua popularidade e carisma, e mais pela mobilização de sua autoridade e recursos em benefício de um determinado candidato. O controle da máquina coloca nas mãos do governador recursos decisivos, com os quais ele pode mobilizar apoio de outros grupos e atores, com destaque para os prefeitos. Com estes recursos ele pode, inclusive, tentar cooptar apoiadores do candidato adversário. Essa via de transferência de votos parece ser a mais importante quando não há identificação partidária ou forte associação programática entre o(a) governador(a) e o candidato a presidente. Esta parece ser a forma pela qual Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais, Ratinho Jr. (PSD) no Paraná e Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo, podem ajudar Bolsonaro nesta reta final. 

Demonstração de força. Outra forma pela qual o apoio de governadores e de candidatos ao governo pode fazer diferença é mais indireta e simbólica. Ter o apoio de muitas lideranças estaduais pode comunicar para o eleitor a viabilidade e o favoritismo da candidatura, enquanto o oposto sinaliza isolamento político. Esses apoios, somados aos de outros tipos de lideranças, podem provocar um efeito de adesão ao candidato melhor posicionado para vencer. 

Controle de espaço. O palanque único reduz o espaço político do adversário, limitando suas possibilidades de mobilização (por meio de realização de eventos, por exemplo) e restringindo suas portas de entrada. É o que parece ocorrer em Rondônia e Mato Grosso do Sul onde os dois candidatos que disputam o segundo turno apoiam Bolsonaro. Em se tratando de controle de espaço, a questão central é que, independentemente do efeito que o apoio pode produzir, o importante é assegurar que ele não esteja ao alcance do adversário. Uma situação na qual um candidato tem palanque único porque conta com o apoio do governador ou de todos os candidatos competitivos amplia para o adversário a importância de outras lideranças, como parlamentares e prefeitos co-partidários e aliados.

Seja qual for o tamanho do efeito do apoio de governadores e candidatos ao governo sobre a votação dos candidatos a presidente e os mecanismos subjacentes, não deveríamos supervalorizar esta dimensão da disputa. O caráter multifacetado da eleição mostra que o jogo se desenrola simultaneamente em muitas arenas e, em cada uma delas, diferentes atores despontam como relevantes. Nenhum deles, isoladamente, poderá decidir os rumos do pleito. Mais que isso: no fim das contas pode muito bem acontecer que, sendo ambos lideranças populares, os candidatos à Presidência se mostrem muito mais efetivos em mobilizar votos para os candidatos aos governos estaduais e não o contrário.

Governos estaduais: certezas, surpresas e o horizonte das disputas pós-primeiro turno

Governos estaduais: certezas, surpresas e o horizonte das disputas pós-primeiro turno

Luciana Santana, Marta Mendes e Gustavo Paravizo

Publicado no JOTA

 

Passado o primeiro turno das eleições, padrões e excepcionalidades podem ser observadas nos resultados das disputas pelos governos estaduais. Eles também nos dão pistas sobre o segundo turno nos estados e nacionalmente. Ao todo, 12 dos 14 governadores que tentaram a reeleição foram reconduzidos ao cargo pelos seus colégios eleitorais, dois a mais do que no primeiro turno de 2018. Outros cinco foram ao segundo turno e aguardam a definição em 30 de outubro. 

 

Enquanto Acre, Amapá, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Tocantins e o Distrito Federal escolheram seus mandatários já no primeiro momento, São Paulo e Santa Catarina rejeitaram as candidaturas de seus atuais governadores no primeiro turno. Em outros doze estados a decisão ficou para a segunda rodada: Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. 

 

Do ponto de vista partidário, o PT larga na frente com vitória em três estados, todos do Nordeste (Ceará, Piauí, e Rio Grande do Norte). PP (Acre e Roraima), União Brasil (Goiás e Mato Grosso) e MDB (Distrito Federal e Pará) conquistaram dois estados cada. Solidariedade, PSB, Novo, PSD e Republicanos, por sua vez, garantiram apenas um governo estadual cada. PT e PL ainda disputam, cada um, quatro governos estaduais com candidatos próprios no segundo turno e também contam com apoios de candidaturas de outros partidos.

 

Apesar da discrepância entre os dados das pesquisas em alguns estados, a lógica se confirmou em vários deles e os candidatos mais bem posicionados nas venceram. Em outros, a disputa promete se intensificar em função do crescimento de alguns candidatos no primeiro turno. Além disso, há uma histórica dificuldade de virada dos segundos colocados na reta final: em 2018, apenas duas candidaturas conseguiram reverter a derrota parcial nas catorze disputas que foram ao segundo turno. 

 

Os resultados do primeiro turno oferecem o “mapa da mina” sobre o que vem pela frente e também nos dão pistas sobre a dinâmica de apoios gerada pela disputa entre Lula e Jair Bolsonaro. Comecemos pelas surpresas.

 

Surpresas e novos arranjos nas corridas estaduais 

 

A mais expressiva surpresa, sem dúvida, aconteceu em São Paulo onde Tarcísio de Freitas (Republicanos) terminou à frente de Fernando Haddad (PT). O maior colégio eleitoral do país contrariou as pesquisas e deu guarida para o carioca que cresceu 11 pontos e venceu em 500 cidades. Haddad conquistou a capital e outras 90 cidades, mas não avançou no interior do estado. A eleição marcou a primeira derrota do PSDB na corrida pelo executivo estadual em 28 anos. Rodrigo Garcia apoiará Tarcísio no segundo turno a despeito da avaliação da campanha de que ter o apoio do PSDB significa dialogar com o velho. Tudo indica que o estado será o fiel da balança presidencial com  grandes chances de nacionalização da corrida para o executivo estadual.

 

No Rio de Janeiro, as pesquisas de intenção de voto mostraram um crescimento significativo de Claudio Castro (PL) na última semana de campanha. Ele recebeu 58,67% dos votos e confirmou a tendência de alta, reforçando a dificuldade dos institutos em medir os votos ligados ao bolsonarismo. Promovido a governador depois do impeachment de Witzel, Castro não só surpreendeu vencendo a disputa como também ampliou sua margem sobre Marcelo Freixo (PSB), registrando uma vantagem de 27 pontos percentuais. Castro também já reforçou apoio a Bolsonaro no Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país, onde o atual presidente venceu Lula em 70 dos 92 municípios.

 

Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) confirmou seu favoritismo com 56,18% dos votos válidos. Ele venceu na capital e em mais 658 municípios (77% do total de cidades do estado). Apesar do apoio de Lula, Alexandre Kalil (PSB) enfrentou uma dupla dificuldade: competir com a máquina comandada pelo atual governador e com o desconhecimento de seu nome. Depois do  “Lulécio” e do “Dilmasia”, a novidade da vez é o “Luzema” – o voto cruzado dos mineiros em Zema no estado combinado à escolha de Lula para a presidência. No segundo turno, Zema apoiará Jair Bolsonaro, algo que não foi feito no primeiro turno pelo temor da alta rejeição de Bolsonaro e da grande capilaridade de Lula no estado. Ainda não é possível saber se o eleitor mineiro alterará sua preferência devido ao apoio do governador. 

 

No Espírito Santo, é a primeira vez em 28 anos que o estado vai ao segundo turno para a escolha do governador. As pesquisas indicavam vitória de Renato Casagrande (PSB) em primeiro turno com 34 pontos percentuais de vantagem. A decisão, no entanto, foi adiada para o dia 30 de outubro. A principal razão é a nacionalização da disputa estadual: com apoio de Bolsonaro, Carlos Manato (PL) cresceu 8% na reta final e assistiu Magno Malta (PL), candidato ao Senado, ultrapassar e vencer a líder nas pesquisas, Rose de Freitas (MDB). O atual governador recebeu 46,94% votos e agora soma oito pontos de vantagem em relação a seu adversário. Se na primeira rodada Casagrande ofereceu um apoio apenas discreto a Lula devido à alta popularidade de Bolsonaro no estado, agora terá que se empenhar mais na campanha do petista. 

 

Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) terminou em primeiro lugar com 49,45% dos votos contra 40,8% de ACM Neto, com grande crescimento na reta final. A última vez que o estado decidiu a eleição para governador no segundo turno foi em 1994. Derrotado nas urnas, o bolsonarista João Roma (PL), que obteve 9,08% dos votos, já declarou que é contra o Partido dos Trabalhadores e condicionou seu apoio a ACM a este retribuir com apoio à candidatura de Bolsonaro. Um apoio de alto risco na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país e um dos estados mais alinhados politicamente com Lula, que recebeu 69,73% votos válidos contra 24,31% de Jair Bolsonaro. 

 

Algumas vitórias no primeiro turno também chamaram a atenção no Nordeste pela diferença notada entre as pesquisas ao longo da campanha e os resultados eleitorais. É o caso dos estados do Piauí, Maranhão e Ceará. No Piauí havia forte indicativo de que a eleição seria levada para o segundo turno, com perspectiva de vitória do candidato do União Brasil, Sílvio Mendes. No entanto, o eleitor piauiense deu a vitória em primeiro turno ao candidato petista, Rafael Fonteles (PT), ex-secretário Estadual da Fazenda, com 57,17%, dando continuidade à hegemonia do partido que está à frente do governo no estado a 19 anos. O estado também elegeu para o Senado o ex-governador, Wellington Dias (PT).

 

Apesar de liderar as pesquisas de intenção de votos no Maranhão, o candidato do PSB, Carlos Brandão, tinha como principal adversário o bolsonarista Lahesio Bonfim (PSC). As pesquisas indicavam que a disputa poderia ser resolvida no segundo turno. Entretanto, com o apoio de Flávio Dino, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da família Sarney, Brandão cresceu na reta final e venceu no primeiro turno com 51,14% dos votos válidos. 

 

O Ceará foi palco de uma das disputas mais interessantes. Os desarranjos políticos no quintal de Ciro Gomes fizeram com que o candidato petista, Elmano Freitas (PT), que figurava em terceiro lugar nas pesquisas de opinião ainda no mês de agosto, ganhasse corpo e vencesse a eleição no primeiro turno com 54,02%. Ele bateu o deputado federal e bolsonarista Capitão Wagner (UB), que ganhou protagonismo na eleição para a Prefeitura de Fortaleza em 2020 e que acabou em 2022 com 31,72%. O candidato do PDT, Roberto Cláudio, terminou a disputa em terceiro lugar com 14,14% dos votos válidos. 

 

No Rio Grande do Sul, uma inesperada virada também roubou a cena. Onyx Lorenzoni (PL) passou em primeiro lugar para o segundo turno, com votação bem acima da prevista nas pesquisas, com 37,5%. Do mesmo modo, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) fez o mesmo movimento e ultrapassou Olívio Dutra (PT) na disputa pelo Senado. Além disso, o atual governador, Eduardo Leite (PSDB), que liderou todas as pesquisas de intenção de voto, por muito pouco não ficou fora do segundo turno. A diferença em relação ao terceiro colocado, Edegar Pretto (PT), foi de apenas 2441 votos. No segundo turno, o apoio de Lula e Pretto pode significar uma faca de dois gumes para Leite: embora seja difícil recusar o apoio da esquerda, este pode lhe custar votos junto ao eleitorado de direita. Bolsonaro tem palanque certo com Lorenzoni e Mourão no quinto colégio eleitoral do país. 

 

Em outros oito estados a decisão ficou para o segundo turno. Em quatro, mudanças de cenário também alteraram o panorama da corrida eleitoral e confrontaram as medições. No Amazonas, Eduardo Braga (MDB) ultrapassou Amazonino Mendes e disputará o segundo turno contra Wilson Lima (UB). No Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (MDB) deu lugar no segundo turno ao Capitão Renan Contar (PRTB). Este era o terceiro nas pesquisas e foi ao segundo turno na primeira colocação contra Eduardo Riedel (PSDB).

 

Em Pernambuco, o segundo turno será entre Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). Marília teve votação bem abaixo do que indicavam as pesquisas, terminando com 24%, contra 20,6% de Lyra. Em Santa Catarina, Moisés (Republicanos) que aparecia empatado em primeiro lugar nas pesquisas, acabou fora do segundo turno que será disputado entre Jorginho Mello (PL) e Décio Lima (PT). A subida do candidato do PT foi uma surpresa em um estado em que todos os candidatos mais bem posicionados durante a campanha estavam alinhados a Bolsonaro.

 

Em outras quatro unidades federativas o resultado confirmou o que foi apontado pelas principais pesquisas. Em Alagoas, Paulo Dantas (MDB) enfrentará Rodrigo Cunha (UB); João Azevedo (CD) e Pedro Cunha Lima (PSDB) disputarão o segundo turno na Paraíba; em Rondônia a disputa será entre Marcos Rocha (UB) e Marcos Rogério (PL); e em Sergipe, depois da impugnação da candidatura de Valmir de Francisquinho (PL), o segundo turno terá Rogério Carvalho (PT) e Fábio Mitidieri (PSD).

Dinâmicas estaduais e apoios presidenciais no segundo turno

 

Considerando a fotografia em mãos, Bolsonaro leva vantagem entre os governadores eleitos com três apoios a mais que Lula. Contudo, o número de aliados é igual quando consideramos as candidaturas mais votadas que passaram ao segundo turno. 

 

Quatro observações podem ser feitas considerando o cenário atual. Primeiro, os custos de associação de eleitos e candidatos a Bolsonaro, em função da rejeição apontada pelas pesquisas, parece ter diminuído por conta do bom desempenho eleitoral. Segundo, cabos eleitorais nos estados podem ser decisivos para Lula considerando a falta de palanque no Rio de Janeiro, Minas Gerais e a necessidade de conquistar votos no interior de São Paulo. Além disso, é necessário saber qual a real capacidade de mobilização de votos por parte dos governadores eleitos e dos candidatos, já que há estados que podem repetir o chamado “voto cruzado”. Por fim,  dado o nível de atenção que será dedicado às eleições presidenciais, é provável que haja uma nacionalização ainda maior nas disputas pelos governos estaduais. A saber se confirmaremos estas perspectivas e/ou se novas surpresas entrarão para a memória destas eleições.

 

Luciana Santana é professora da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Mestre e doutora em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com período sanduíche na Universidade de Salamanca (Espanha). Líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia e Secretária Executiva da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política).

 

Marta Mendes da Rocha é professora associada do Departamento de Ciências Sociais da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), onde coordena o Nepol (Núcleo de Estudos sobre Política Local). É doutora em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisadora do CNPq. Foi pesquisadora visitante na Universidade do Texas em Austin (EUA). Webpage: martamrocha.com

 

Gustavo Paravizo é jornalista, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisador do Nepol (Núcleo de Estudos sobre Política Local).

Como estão as disputas para governadores às vésperas do primeiro turno das eleições?

Como estão as disputas para governadores às vésperas do primeiro turno das eleições?

Marta Mendes, Luciana Santana e Luiza Casado*

Publicado no Congresso em Foco

 

No início de setembro publicamos um artigo mostrando que, segundo as pesquisas de intenção de votos divulgadas até aquele momento, treze candidatos tinham chances de se eleger governadores no primeiro turno. Às vésperas da eleição algumas situações se alteraram. Analisamos a possibilidade de vitória no primeiro turno considerando a intenção de votos no candidato(a), com base nas pesquisas mais recentes realizadas pelo IPEC, divulgadas entre 9 de setembro e 01 de outubro, e o quanto isso representaria em termos de votos válidos – excluindo-se brancos, nulos e indecisos.

 

Os estados nos quais a disputa para o governo estadual tem boas chances de se encerrar no dia 2 de outubro são: Pará, Mato Grosso, Paraná, Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Acre, Tocantins e Amapá. O Amapá entrou para este grupo depois que Clécio (Solidariedade) subiu de 41 para 54% das intenções de voto, segundo pesquisa do Ipec divulgada no dia 29 de setembro, o que significa subida de 13 pontos, ou seja de 49% dos votos válidos para 57%. 

 

Cinco estados deixaram esse grupo. O primeiro deles foi o Distrito Federal que oscilou nas últimas semanas na comparação com o levantamento feito no início de setembro. Com a redução dos brancos, nulos e indecisos, Ibaneis Rocha (MDB) tem agora 46% dos votos válidos. Mudanças importantes também ocorreram no Piauí e na Bahia onde, nessa reta final de campanha, as candidaturas petistas entraram em curva ascendente. No Piauí, Rafael Fonteles (PT) subiu de 29% para 42%, empatando tecnicamente com o candidato Sílvio Mendes (UB) que tinha 43% e passou para 44%. Descartando bancos, nulos e indecisos, nenhum dos dois atinge maioria absoluta. Na Bahia a pesquisa Ipec de 23 de setembro dava 47% de intenções de voto para ACM Neto (UB), contra 32% de Jerônimo Rodrigues (PT), o que significava 54% de votos válidos para o ex-prefeito de Salvador, indicando vitória no primeiro turno. A última pesquisa, do dia 1 de outubro, mostrou 51% dos válidos para ACM contra 40% de Jerônimo. Em Roraima Antônio Denarium (PP) também aparece com 51% dos votos válidos contra 45% de Teresa Surita (MDB). Em Minas Gerais, a pesquisa mais recente do Ipec mostra 50% de votos válidos para Romeu Zema (Novo) contra 42% de Alexandre Kalil (PSD), indicando um quadro em aberto. Nestes cinco estados, embora haja chances de uma vitória no primeiro turno, o cenário ainda é de indefinição.

 

Em nove estados a disputa deve se encerrar neste domingo

Se este quadro se confirmar, sete governadores garantirão um segundo mandato já no dia 2 de outubro. O encerramento da disputa no primeiro turno também terá consequências em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro porque os presidenciáveis poderão contar com palanques únicos em alguns estados e com a atenção integral de alguns de seus aliados.

Bolsonaro terá garantido quatro palanques únicos com Ratinho Jr. (PSD) no Paraná, Wanderlei Barbosa (Republicanos) no Tocantins, Mauro Mendes (UB) no Mato Grosso, e Gladson Cameli (PP) no Acre. Lula também poderá contar com quatro: Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo, Helder Barbalho (MDB) no Pará, Fátima Bezerra (PT) no Rio Grande do Norte e Clécio Luís (Solidariedade) no Amapá.

A tendência é de que Zema apoie Bolsonaro em um eventual segundo turno presidencial. Em caso de vitória do candidato do Novo no primeiro turno, isso significará palanque único para Bolsonaro no segundo maior colégio eleitoral do país. Também em Roraima, uma vitória de Antônio Denarium (PP) no primeiro turno garante, palanque único para Bolsonaro em um segundo turno presidencial.

O mais provável é que ACM Neto na Bahia, Silvio Mendes no Piauí e Ronaldo Caiado em Goiás mantenham a neutralidade em uma eventual disputa de segundo turno entre Lula e Bolsonaro. E não será por motivos ideológicos ou programáticos. Na Bahia e no Piauí, onde Lula lidera com folga as pesquisas de intenção de voto, não é interessante para ACM Neto e Mendes declararem apoio a Bolsonaro, ainda que se identifiquem com algumas de suas pautas. Em Goiás, Caiado não teria nada a ganhar reatando com Bolsonaro depois do rompimento motivado por discordâncias durante a pandemia de Covid 19. 

Estados rumo ao segundo turno

Além dos nove estados com grandes chances de definição da disputa no primeiro turno e do Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais, Piauí e Roraima, onde também existe esta possibilidade, nos outros treze estados o cenário é de indefinição. 

Em oito já é possível vislumbrar quem serão os competidores no segundo turno. 

No Rio de Janeiro tudo indica que o atual governador Cláudio Castro (PL), que aparece com 47% dos votos válidos na última pesquisa Ipec, enfrentará Marcelo Freixo (PSB) que tem 28%.

Também em Rondônia o cenário parece estar definido. O mais provável é que o segundo turno seja disputado entre o Coronel Marcos Rocha (UB) que cresceu 10 pontos da pesquisa de agosto para a de setembro, aparecendo agora com 40%, e Marcos Rogério (PL) que também cresceu, passando de 13 para 25% das intenções de voto. Essa subida ocorreu depois que Ivo Cassol (PP) desistiu da candidatura no início de setembro.

No Rio Grande do Sul, o segundo turno deve se dar entre Eduardo Leite (PSDB) com 40% e Onyx Lorenzoni (PL) com 30% dos votos válidos. Ambos estão estáveis desde a última pesquisa. O terceiro colocado, o petista Edegar Pretto, cresceu e aparece agora com 20% das intenções de voto, ainda muito distante do segundo.

No Amazonas, o atual governador Wilson Lima (UB) lidera com 38% dos votos válidos e deve enfrentar no segundo turno Amazonino Mendes (Cidadania) que tem 28%. No terceiro lugar Eduardo Braga (MDB) aparece com 19%, podendo oferecer alguma surpresa na reta final.

Em Alagoas, o atual governador, Paulo Dantas (MDB), que tem apoio de Lula, subiu para 41% das intenções de voto na última pesquisa Ipec. Rodrigo Cunha (União Brasil), apoiado por Arthur Lira, está garantindo sua presença no segundo turno com 21%. Collor, que apoia Bolsonaro, caiu para 12%. Considerando apenas os votos válidos, Dantas tem 45% contra 23% de Cunha. 

No Ceará, onde se observava maiores divergências entre os institutos de pesquisa, a disputa está se encaminhando para um segundo turno entre Elmano de Freitas (PT) e Capitão Wagner (UB). Segundo o levantamento mais recente do Ipec, Elmano  ultrapassou Wagner e tem agora 44% dos votos válidos contra 37% de Wagner. Roberto Claudio (PDT) parece estar fora do páreo, com 18% dos válidos.

 

A disputa em Santa Catarina, que parecia aberta, mudou nessa reta final. Jorginho Mello (PL) e o atual governador Carlos Moisés (Republicanos) devem disputar o segundo turno. Na última pesquisa Ipec, Mello aparece com 25% contra 20% de Moisés, o que corresponde a 29% e 23% dos votos válidos, respectivamente. 

 

Em São Paulo, o quadro parece se encaminhar para o segundo turno entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 31% dos válidos e Fernando Haddad (PT) que segue firme na liderança com 41%.

 

Cenários de indefinição

 

Em outros cinco estados a disputa está muito aberta e ainda não é possível saber quem passará ao segundo turno. 

O Mato Grosso do Sul apresenta um dos cenários mais disputados. O ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), com 17%, Rose Modesto (UB) com 14% e Eduardo Riedel (PSDB) com 12%, disputam uma vaga no segundo turno, atrás do primeiro colocado, André Puccinelli (MDB), que se manteve estável nos levantamentos de agosto e setembro com 25% das intenções de voto.

No Maranhão, Weverton Rocha (PDT) com 22% e Lahesio Bonfim (PSC) com 23% dos votos válidos competem para decidir quem enfrentará o atual governador Carlos Brandão (PSB), que aparece com 48%.

Na Paraíba, Pedro Cunha Lima (PSDB) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) estão embolados na segunda colocação com 22% dos votos válidos, bem atrás do atual governador João Azevêdo (PSB) que lidera com 39%.

Pernambuco tem dois candidatos empatados em segundo lugar, com 17% dos válidos, muito distantes de Marília Arraes (Solidariedade), com 38%.

 

Finalmente, em Sergipe, a situação é de incerteza depois que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu manter o indeferimento da candidatura de Valmir de Francisquinho (PL) que liderava as pesquisas de intenção de voto com 40%. A decisão beneficiará os candidatos Rogério Carvalho (PT) e Fábio (PSD), ambos com 17% das intenções de voto na última pesquisa do Ipec. De acordo com a decisão, os votos dados a Francisquinho serão contabilizados como nulos.

 

Disputas de segundo turno nacionalizadas?

 

Em alguns estados, o segundo turno entre candidatos ao governo pode reproduzir a polarização entre Lula e Bolsonaro. Isso pode acontecer no Ceará em um eventual segundo turno entre Capitão Wagner (UB), aliado de Bolsonaro, e o petista Elmano de Freitas. No Rio de Janeiro, Castro, que pertence ao mesmo partido do presidente, deverá disputar no segundo turno um adversário alinhado ao PT, Freixo, o que deve favorecer a nacionalização. São Paulo deve ser palco de uma disputa bastante nacionalizada no segundo turno, caso Tarcísio de Freitas se confirme como adversário do petista Fernando Haddad. 

 

Em outros estados, a disputa deve ser decidida em segundo turno, mas com palanque único para os candidatos a presidente porque todos os candidatos mais competitivos se alinham a um dos campos. É o caso de Santa Catarina e Rondônia com disputa no campo da direita e palanque único para Bolsonaro. E do Maranhão, único caso de disputa entre candidatos do campo da esquerda e centro-esquerda, com palanque único para Lula.

 

*Marta Mendes da Rocha – Professora associada do Departamento de Ciências Sociais da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), onde coordena o Nepol (Núcleo de Estudos sobre Política Local). Doutora em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisadora do CNPq. Foi pesquisadora visitante na Universidade do Texas em Austin. Webpage: martamrocha.com

 

Luciana Santana – Professora da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Mestre e doutora em ciência política pela UFMG, com período sanduíche na Universidade de Salamanca (Espanha). Líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia e diretora da regional Nordeste da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política)

Luiza Casado é graduanda em Ciências Sociais (Bacharelado) na Universidade Federal de Alagoas, bolsista de iniciação científica (CNPQ) e integrante do Grupo de pesquisa Instituições, comportamento e Democracia.

 

Nacionalizar ou não as campanhas estaduais? Eis a questão!

Nacionalizar ou não as campanhas estaduais? Eis a questão!

Marta Mendes

Luciana Santana

Vítor Sandes 

Publicado no Jota

 

Antes mesmo do início do processo eleitoral, havia grande expectativa de nacionalização das disputas estaduais, isto é, de que as disputas pelo cargo de governador(a) acabassem por reproduzir o que se passa no nível nacional. Podemos dizer que a nacionalização ocorre quando os principais atores e pautas presentes na eleição para presidente passam a orientar tanto as estratégias dos atores quanto a escolha dos eleitores na eleição estadual, relegando para segundo plano as dinâmicas e as agendas locais. Isso pode ocorrer de forma intensa ou apenas parcial. 

Há boas razões para apostar na nacionalização dos pleitos estaduais. Primeiro, porque dentre as disputas majoritárias, a eleição presidencial é a que desperta mais atenção da mídia e dos eleitores, devido à importância do cargo e às prerrogativas constitucionais do presidente. É esperado, portanto, que os grandes temas e as lideranças da política nacional acabem moldando a disputa no nível subnacional dando o tom para candidatos e eleitores. Além disso, o rendimento eleitoral das candidaturas presidenciais pode se refletir no desempenho de seus aliados no nível subnacional. 

Ainda assim, nem sempre a eleição estadual é nacionalizada ou reproduz o que ocorre no nível nacional no mesmo grau. Em alguns casos, postulantes aos cargos nos estados podem, intencionalmente, buscar se desvincular dos candidatos à presidência e voltar sua atenção para os problemas e pautas do estado. Vale a pena lembrar que não existe verticalização no Brasil e que os partidos têm liberdade para fazer alianças nos estados diferentes dos acordos no nível nacional. As análises já publicadas pelo Observatório das Eleições na editoria focada nos pleitos estaduais nos ajudam a entender quando é estratégico nacionalizar a competição nos estados e quando é preferível focar na arena estadual, bem como as motivações por trás de cada estratégia.

 

Cenários de nacionalização

 

É possível observar que em alguns estados há mais incentivos para que ocorra a nacionalização devido à centralidade do colégio eleitoral e ao próprio perfil das candidaturas e do eleitorado. Este parece ser o caso do Rio de Janeiro na disputa entre Marcelo Freixo (PSB), aliado de Lula e identificado com o campo da esquerda, e Claudio Castro (PL) que, além de ser do mesmo partido do presidente, tem campanha bastante associada à Bolsonaro e às pautas defendidas pelo presidente. O Rio, além disso, é o bastião político do clã Bolsonaro.

Em São Paulo a forte associação entre os petistas Fernando Haddad e Lula, e entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Bolsonaro ajuda a conectar os dois pleitos. Porém, a força tradicional do PSDB no estado, com um terceiro candidato competitivo não alinhado nem a Bolsonaro nem a Lula – no caso, o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), atenua em parte a nacionalização e impede que o cenário reproduza integralmente a disputa presidencial.

Uma das situações mais interessantes ocorre em Alagoas. A nacionalização está bastante evidente nas estratégias adotadas na disputa estadual de duas candidaturas, seja na defesa de pautas ou por reforçarem os presidenciáveis em suas campanhas. De um lado está o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB), candidato oficial de Bolsonaro no estado, e de outro, o atual governador Paulo Dantas (MDB), candidato de Lula.  Segundo a última pesquisa Ipec, Dantas liderava com 30% das intenções de voto. Collor marcava 20% das intenções de votos, mesmo percentual do senador Rodrigo Cunha (UB) que, nesta eleição, é apadrinhado por outro aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). Diferentemente de Collor, Cunha não alinhou sua candidatura a do presidente, embora seja beneficiário direto de votos bolsonaristas. Um dos dois deverá enfrentar Dantas no segundo turno e ambos poderão se valer estrategicamente da associação com Bolsonaro.

Em Sergipe, há claro alinhamento entre as candidaturas competitivas do pleito com a disputa presidencial, ainda que haja particularidades estaduais. Isso se deve à presença da candidatura bolsonarista de Valmir de Francisquinho (PL) – que teve sua candidatura indeferida pelo TRE-SE, mas segue fazendo campanha, enquanto recurso é analisado pelo TSE – e que tem liderado as pesquisas eleitorais, e da candidatura petista de Rogério Carvalho, que aparece em terceiro lugar. O segundo colocado, Fábio Mitidieri (PSD), seguindo a orientação do partido, não se alinhou a nenhuma das candidaturas, ainda que tenha, no momento inicial, feito acenos a Lula. Isso indica também a relevância das estratégias nacionais dos partidos nas disputas estaduais. 

 

Nacionalização parcial

 

Há casos de nacionalização parcial nos quais essa situação não se materializa integralmente porque um dos lados, estrategicamente, resiste a isso e prefere focar em temas e agendas próprias do estado ou mais sensíveis para a população local.  Dois exemplos são o Piauí e o Rio Grande do Sul. No Piauí, o candidato Rafael Fonteles (PT) se esforça para nacionalizar a disputa buscando fortalecer sua associação com Lula que, na última pesquisa Ipec  de setembro, apareceu com 69% de intenção de voto, contra 15% de Bolsonaro, a maior diferença entre todos os estados. Do outro lado, Sílvio Mendes (União Brasil), ex-prefeito de Teresina, tem como vice a deputada federal Iracema Portella (PP) e o apoio do senador Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro. Apesar do vínculo evidente com Bolsonaro, Mendes vem tentando estadualizar a disputa, o que pode ser compreendido pela força de Lula no estado e pelos altos índices de reprovação de Bolsonaro. 

No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (PL), ex-ministro de Bolsonaro, trabalha pela nacionalização, mobilizando não apenas a figura do presidente, mas as pautas centrais da extrema-direita. Porém, o atual governador Eduardo Leite (PSDB) se esforça no sentido oposto,  preferindo focar nos problemas e questões locais, distanciando-se das polêmicas e controvérsias nacionais. Ele lidera as pesquisas e pode se tornar o primeiro governador reeleito na história gaúcha, mas, para isso, pode ter que mudar sua estratégia em um eventual segundo turno presidencial. Para superar a extrema-direita terá que contar com os votos da esquerda e, neste caso, o quadro pode acabar mais nacionalizado.

Outra situação de nacionalização parcial ocorre quando, mesmo havendo candidatos competitivos formalmente vinculados às principais candidaturas presidenciais, uma das partes tenta descolar sua imagem do aliado, escondê-lo no processo ou, para usar uma expressão popular, “faz corpo mole na campanha”. Isso já ocorreu em outras eleições brasileiras e, em 2022, parece se repetir em alguns cenários. 

No Espírito Santo, o atual governador Renato Casagrande (PSB), que lidera as pesquisas de intenção de voto com chances de vencer no primeiro turno, não tem feito campanha ostensiva para Lula, apesar da aliança formal entre PT e PSB. Isso porque ele precisa manter o apoio de eleitores que não votariam em Lula de jeito nenhum em um estado onde Bolsonaro foi muito bem votado em 2018. Algo parecido ocorre no Mato Grosso. O governador Mauro Mendes (UB) lidera com 60% das intenções de votos segundo a última pesquisa Ipec e deve ser reeleito no primeiro turno. Apesar da afinidade com pautas bolsonaristas, Mendes não incorporou o presidenciável à sua campanha, angariando, assim, apoio de eleitores que preferem outros candidatos a presidente. A candidata alinhada à Lula, Márcia Pinheiro (PV), aparece em um distante segundo lugar nas pesquisas, com 15%. 

 

Cenário de estadualização da disputa

 

Por último, estão os casos nos quais a eleição estadual parece seguir uma lógica própria porque, dentre outras razões, os candidatos mais competitivos habitam o mesmo campo ideológico. Isso vem ocorrendo nos estados onde candidatos da direita e da extrema-direita dominam o pleito. Em Goiás, depois do forte apoio ofertado a Bolsonaro em 2018, Ronaldo Caiado (UB) busca fazer uma campanha descolada da eleição presidencial. Seu rompimento com Bolsonaro deu-se por ocasião da pandemia quando o governador discordou da abordagem negacionista do presidente. Depois dele aparecem outros dois candidatos também da direita e próximos de Bolsonaro. O mesmo parece acontecer em Rondônia e Santa Catarina, estados nos quais os candidatos de direita e extrema-direita competem na associação de sua imagem com a de Bolsonaro e a centro-esquerda e esquerda não possuem candidatos com chances de irem para o segundo turno.  

A complexidade e os aspectos contextuais da política nos estados indicam que há várias motivações e trajetórias para o processo de nacionalização e estadualização dos pleitos. Os partidos nacionalmente – especialmente PT e PL que possuem as candidaturas mais competitivas – buscam criar as condições para eleger seus candidatos presidenciais na construção de palanques nos estados, o que induz à nacionalização. Mas há margem para movimentações e espaço político para outros atores, em função do histórico da competição política e das inclinações políticas do eleitorado estadual.