Últimas cenas do primeiro turno nas redes

Últimas cenas do primeiro turno nas redes

Na última semana do primeiro turno, o perfil de Jair Bolsonaro no Facebook registrou um aumento muito grande em visualizações e interações – foram quase três vezes maiores do que as de Lula. Esses números expressivos não haviam sido ainda registrados ao longo da campanha, ou seja, as interações e visualizações dos dois perfis se mantinham próximas, com vantagem de Bolsonaro, mas sem uma diferença tão expressiva como a registrada na última semana, o que pode indicar uma ofensiva da campanha bolsonarista para garantir o segundo turno.

E dessa forma, puxado pelo crescimento individual de Jair Bolsonaro, o conjunto do campo bolsonarista também apresentou números mais altos na última semana de campanha do primeiro turno.

No Instagram, Bolsonaro repetiu o grande aumento nas visualizações: quase 6 vezes mais visualizações do que o perfil de Lula. Mas o ex-presidente manteve a dianteira em interações e reconquistou a frente no aumento do número de seguidores. Também cabe destacar que o campo lulista apresentou crescimento no número de interações na semana e se distanciou dos números do campo bolsonarista, o que é também um fato inédito na campanha.

 

Vamos agora aguardar as movimentações da primeira semana de campanha do segundo turno, que teve início no dia 3.

 

Última semana do primeiro turno:

Facebook

Interações Visualizações Seguidores Crescimento de seguidores
Bolsonarismo 18586482 74641468 63060000 143762
Lulismo 8860517 26302384 36170000 81364

 

Interações Visualizações Seguidores Crescimento de seguidores
Bolsonaro 7475526 24479896 14810914 72328
Lula 2553320 5698838 5187907 50522

 

Instagram 
Interações Visualizações Seguidores Crescimento de seguidores
Bolsonarismo 25816331 39153601 51270000 1710556
Lulismo 48094066 16689774 39570000 1667648

 

Interações Visualizações Seguidores Crescimento de seguidores
Bolsonaro 15977207 31607177 22665763 1048165
Lula 16686053 5311073 8204615 1227135

 

Guerra santa no Twitter

O campo bolsonarista demorou a se articular para responder às acusações de que Jair Bolsonaro frequenta a maçonaria. Segundo o monitoramento que realizamos, no dia 5/10 havia pouquíssimos tuítes sobre o tema no campo bolsonarista, o que significa que acusaram o golpe e demoraram a se articular para dar uma resposta adequada nas redes. Ao contrário, o campo lulista se apropriou do tema.

Sobre maçonaria, no dia 5, o campo bolsonarista publicou 16 tweets, contra 179 do campo lulista. Evangélicos influenciadores como Andre Valadão, Marcos Feliciano e Nikolas Ferreira demoraram bastante a entrar em campo na narrativa para defender bolsonaro, ou seja, a contranarrativa deles estava desorganizada.

Por que a disputa na Internet parece descer ladeira abaixo?

Por que a disputa na Internet parece descer ladeira abaixo?

Por Helena Martins e Bia Calza

Publicado no Mídia Ninja

 

A matemática dos votos no primeiro turno deixa claro: a situação de Bolsonaro é bem mais difícil do que a de Lula. O atual presidente ficou atrás do petista por seis milhões de votos. Para virar, Bolsonaro tenta pescar em mares distintos: virar voto de evangélico que votou em Lula, mas não muito convicto; conquistar a população de baixa renda e as mulheres; intoxicar o eleitor que se absteve a ponto de mobilizá-lo a votar no segundo turno. Lula tem que evitar perder esses votos e ampliar, garantindo não só a adesão formal dos candidatos, mas dos apoiadores deles. Os primeiros dias da campanha no segundo turno mostram, portanto, que esta será uma guerra de rejeições. Como parte central dela, as primeiras movimentações escancaram os desafios associados às comunicações, particularmente ao ambiente digital. 

 

Além do já perceptível maior volume de desinformação, há uma diferença em relação aos temas e à dinâmica das redes. Ao longo do primeiro turno, mobilizaram o debate político nas mídias digitais o ataque às urnas e a associação de práticas de corrupção ao ex-presidente. Agora, ganham espaço conteúdos mais duros sobre o comportamento dos candidatos e um apelo às questões de ordem moral e religiosa. No caso do público evangélico, de um lado, apoiadores do presidente Bolsonaro ligam Lula ao satanismo, além de continuarem a  campanha em torno dos conteúdos que já conhecemos: aborto, ideologia de gênero, drogas e suposta perseguição aos cristãos. De outro, um resgate de um vídeo de Bolsonaro na maçonaria ganhou ampla projeção. O tamanho do impacto que pode ter em sua base evangélica é ainda difícil de mensurar, mas o incômodo está posto, como evidencia o fato de o candidato ter se pronunciado sobre o tema.

 

A pauta da maçonaria, que surgiu de forma espontânea, acabou virando rapidamente um dos assuntos mais buscados no Google, e mobilizou eleitores anti-Bolsonaro em diversas redes. No Twitter, por exemplo, entre a base de 43 influenciadores pró-Lula monitorados pelo Observatório das Eleições, foram coletados 228 tweets sobre o assunto na terça-feira (4). Entre os cinquenta perfis bolsonaristas monitorados, apenas 16 tweets mencionavam o assunto, o que mostra que o bolsonarismo buscou silenciar sobre ele.

 

Entre os perfis evangélicos, apenas Silas Malafaia se dedicou ao assunto no dia, enquanto André Valadão, Nikolas Ferreira e Marco Feliciano se calaram. A campanha anti-Bolsonaro percebeu o flanco aberto e intensificou os ataques. Surgiram, então, diversos conteúdos associando Bolsonaro ao Baphomet, figura mítica que acompanha o presidente no encontro com maçons registrado no vídeo. Na quarta-feira (5), a tag “Baphomet” estava entre os assuntos mais comentados das redes. Dada a situação factual que o vídeo retrata, muitos conteúdos desafiam a classificação entre desinformação proposital, malinformation, misinformation ou simples ironia. 

 

Desordem informacional e o papel das plataformas

 

No segundo turno, a dinâmica que temos visto lembra mais aquela de 2018. O bolsonarismo vai se unificando e apelando diretamente para questões religiosas e as chamadas pautas morais com o objetivo de gerar desgaste do adversário. A esquerda, que ainda se mostra surpreendida, parece buscar a mesma estratégia, como o caso do vídeo ilustra. Apela ainda para acusações em torno da religião, inclusive com desinformação como no caso da associação de Damares Alves ao satanismo, e adota conteúdos com estética memetizada, ambas estratégias típicas da direita. 

 

Por um lado, essa situação evidencia a centralidade da religião na vida dos brasileiros hoje. As emissoras de televisão e rádio são amplamente ocupadas por fundamentalistas. Mas há uma questão que precisa ser posta para que a resposta ao cenário atual não seja adotar os mesmos procedimentos que fazem regredir a consciência social: por que esse tipo de conteúdo, inclusive desinformativo, faz sucesso nas redes, a ponto de se tornar quase uma necessidade utilizá-lo? 

 

Mais do que mentiras, o que a estratégia de desinformação promove é uma desordem informacional, um desencontro, de modo que a verdade, as instituições tradicionais e seus portadores parecem afetar pouco uma parcela da população, diuturnamente bombardeada por conteúdos que as afetam de outras formas, especialmente no campo dos valores. Há, nisso, uma profunda dimensão ideológica, no sentido da ideologia como conjunto de crenças. Uma questão antiga, mas que é renovada em novos processos comunicacionais. Ora, aquela parcela da população tem permanente contato com pensamentos semelhantes, pois inserida em bolhas algorítmicas, o que a torna pouco permeável ao diferente e ao contraditório.

 

A disputa em torno da informação, portanto, não é nova, mas as plataformas digitais que organizam a conversação hoje devem ser colocadas em primeiro plano nessa análise do sucesso de conteúdos simplistas ou desinformativos. Tais plataformas não são neutras, produzem o que temos chamado de regulação tecnológica, o que afeta até mesmo a forma do que circula nela. São conteúdos rápidos, padronizados (as dancinhas ilustram isso), permeados de humor, que promovem uma quase indissociação entre o público e o privado. Além disso, baseadas na economia da atenção, as plataformas estimulam a promoção de conteúdos que geram engajamento, ainda que para isso, como é muito comum, promovam conteúdos extremistas ou mesmo desinformativos, que chamam a atenção das pessoas. 

 

Tanto a demanda pela produção constante quanto o tratamento de dados têm se pautado por uma ética de mercado. Interessa às plataformas e às demais empresas envolvidas nos diversos negócios associados a tais práticas que os usuários se mantenham permanentemente conectados, clicando para produzir informações sobre eles mesmos e os outros. Informações que, posteriormente, serão processadas por grupos que as usarão para, entre outras possibilidades, oferecer anúncios ou conteúdos políticos. Ainda que todos os grupos estejam se valendo desse instrumento, eles não são tratados igualmente pelas plataformas. As principais delas comprovadamente promovem mais conteúdos de direita, conforme pesquisas feitas sobre o Facebook, YouTube e Twitter.

Todo esse cenário evidencia que a sociedade deve discutir o funcionamento das plataformas digitais, que cada vez mais controlam o espaço onde se dá boa parte do debate público, superando a visão da neutralidade e do livre mercado de ideias. A regulação das plataformas digitais, nesse sentido, é uma agenda que se mostra cada vez mais necessária. Uma regulação que promova diversidade, equidade, transparência, inclusive em relação à mediação algorítmica dos conteúdos. Obviamente, isso se a eleição consagrar o candidato preocupado com a democracia, pois o que esse cenário também mostra é que é impossível dissociar o problema da comunicação do da política.

 

Helena Martins é professora da UFC. É editora da Revista EPTIC. Coordenadora do Telas – Laboratório de Tecnologia e Políticas da Comunicação e integrante do Obscom / Cepos.

Bia Calza é mestranda em Ciência Política na Universidade de Brasília e estrategista em comunicação política da Avaaz.

Bolsonarismo amplia ataques e se vale de desinformação sobre urnas em busca engajamento

Bolsonarismo amplia ataques e se vale de desinformação sobre urnas em busca engajamento

Helena Martins e José Maria Monteiro*

Publicado no Congresso em Foco

Suspeição sobre urnas e ataques a Lula são temas cada vez mais frequentes no debate eleitoral nas redes sociais. A tentativa é produzir um ambiente crítico ao candidato petista que segue liderando as pesquisas e desacreditar sua vitória. Na reta final da campanha, tais conteúdos são também utilizados para engajar o eleitorado, reanimando o sentimento antipetista. Embora essa mobilização não pareça se refletir nas pesquisas, como mostra a estagnação de Jair Bolsonaro, ela pode fragilizar a democracia. 

Os ataques foram mapeados pelo Farol Digital, da Universidade Federal do Ceará (UFC), parceiro do Observatório das Eleições. O grupo acompanhou a conversação em 266 grupos de WhatsApp de direita, entre os dias 21 e 28 de setembro, dos quais 166 registraram atividade no período. Ao todo, foram analisadas 8.384 mensagens, sendo que a maior parte delas (64,39%) continham mídia, ao passo que uma parcela menor (35,61%), apenas texto.

Além das fake news sobre o sistema eleitoral, os conteúdos mais repetidos em diferentes grupos são sobre questões constantes no repertório bolsonarista. Uma delas, sobre Adélio Bispo, o autor da facada contra Bolsonaro em 2018, que teria concedido uma entrevista à Rede Globo que teria sido proibida pela Justiça de circular durante o período eleitoral (19 grupos com a mesma mensagem e em mais 16 com conteúdo muito semelhante). Outra, de suspeição em relação à urna eletrônica (28 grupos com textos variados sobre o tema), com destaque que convoca os eleitores a fotografarem seus votos para que seja realizada uma contagem manual. A suposta entrevista de Adélio à Globo é falsa, conforme a agência de checagem Aos Fatos, que identificou que “a publicação tinha centenas de visualizações e compartilhamentos no Facebook e mais de 1.600 compartilhamentos no Instagram nesta terça-feira (27)”. Os ataques às urnas também têm sido frequentemente rechaçados pelos órgãos competentes, mas seguem circulando nas redes.

Ataques à justiça, atrelamento de Lula a práticas de corrupção e temor em relação ao comunismo (a partir de referências ao Chile e à China) são outros temas frequentes. O Amazonas é o estado que segue mais comentado nessas mensagens, a partir da divulgação de agendas e propostas de candidatos bolsonaristas.

Revelando que o compartilhamento de conteúdos sobre eleições é uma estratégia de engajamento comercial, outras duas postagens que mais apareceram em diferentes grupos (37 e 25 grupos) têm como chamada “Pesquisa eleitoral para presidente da República em 2022”, mas na verdade levam o internauta para o site “Finanças Web”, que se apresenta como site com informações sobre cartões de crédito e negociações no mercado financeiro brasileiro. 

O terceiro link bastante compartilhado (23 grupos) direciona para um site de enquete que apresenta Jair Bolsonaro em primeiro lugar entre os presidenciáveis. O engajamento com esses conteúdos tem a ver com a disputa em torno das informações que circulam sobre as pesquisas. Todos os institutos tradicionais, como Ipec, mostram Lula em primeiro lugar nas sondagens, o que o bolsonarismo tenta desacreditar, valendo-se, para isso, também de outras fontes.

 

É interessante notar que o número de vezes que as principais mensagens apareceram em diferentes grupos é bem maior do que o que vimos ao longo da semana do 7 de setembro. naquele momento, a mensagem mais “viral” havia aparecido em apenas 12 grupos. Isso mostra uma intensificação da estratégia de compartilhamento de desinformação, o que é revelado também quando observada a atividade de usuários individuais. Em uma semana, o usuário mais ativo, com número registrado no Amazonas, enviou 392 mensagens. Conteúdos enviados por chips estrangeiros também foram mais visualizados. Vale destacar o caso de um número registrado na Argentina, com 174 mensagens enviadas na semana, e outro, norte-americano, com 97 mensagens. 

 

A atividade desses usuários é bastante superior à dos demais, como o gráfico abaixo mostra, o que é um indício de ação automatizada.

Quando mapeados apenas os links compartilhados, vemos a predominância de convites para grupos do Telegram. Além do chamado para um canal de direita em geral, há convites para grupos que reúnem apoiadores de Bolsonaro por estado. Cada link com a informação estadual circulou 83 vezes. Apenas uma conta alinhada a Lula, do jornal A Postagem, tem destaque entre os mais compartilhados.

 

A estratégia bolsonarista de compartilhamento de links de canais e sites desinformativos também foi identificada pela agência Aos Fatos. Entre 16 de agosto e 19 de setembro, a agência acompanhou 578 comunidades de Telegram e 285 grupos de WhatsApp e verificou que links para sites considerados hiperpartidários (conceito adotado pela agência para se referir a sites desinformativos como Terra Brasil Notícias e Pleno News) foram compartilhados ao menos 40.796 vezes. Aos Fatos alerta que o compartilhamento desses links se dá com a monetização de sites por meio de anúncios automáticos no Google AdSense, o que mostra ineficácia das plataformas no combate às fake news. 

 

Com diferentes estratégias e mobilizando todo um ecossistema midiático, portanto, o bolsonarismo tenta repetir o clima de 2018. O domingo e os dias seguintes serão determinantes para sabermos o quanto esse tipo de procedimento é capaz de ameaçar a democracia no Brasil.

 

José Maria Monteiro é professor de Computação da Universidade Federal do Ceará, coordenador do Farol Digital.

Helena Martins é professora da UFC. É editora da Revista EPTIC. Coordenadora do Telas – Laboratório de Tecnologia e Políticas da Comunicação e integrante do Obscom / Cepos.

As recentes viagens de Bolsonaro e os diferentes  recortes das  mídias sociais

As recentes viagens de Bolsonaro e os diferentes recortes das mídias sociais

Maria Alice S. Ferreira, Rachel Callai Bragatto, Eduardo Barbabela e Francisco Kerche

Publicado no GGN

 

Que as redes sociais não se comportam da mesma maneira não é algo novo. Enquanto o Twitter é terreno fértil para os debates políticos ou futebolísticos, o Instagram parece ancorar discussões comportamentais e de estilo de vida, ecoando celebridades dos mais diversos campos. No YouTube, a polarização ganha espaço faz tempo e o Facebook, entre o esvaziamento e a replicação de outras redes, parece ser o novo CEP digital: se não está lá, não existe – porém não aguarde grandes novidades ou exclusividades por ali.

Mas como os grandes debates nacionais transitam nessas diferentes redes sociais? Há diferença no engajamento, interações e visualizações? Ainda que não sejam possíveis grandes generalizações, foram essas perguntas que guiaram a exploração da repercussão das viagens do presidente Bolsonaro para acompanhar o enterro da rainha Elizabeth II, do Reino Unido, e a sua participação na ONU na semana passada, dois dos eventos que mais repercutiram na agenda política. 

Essa repercussão, porém, se deu de forma diferente em cada mídia social. O Observatório das Eleições monitorou em quatro redes sociais as principais menções relacionadas às viagens de Bolsonaro. Para isso, captou dados de todas as postagens e publicações no período de 17 a  20 de setembro que usavam os termos relacionados à  viagem, como: “bolsonaro rainha”, “bolsonaro viagem”, “bolsonaro ONU”.

No Facebook, os dados analisados mostram que as postagens sobre o tema com maiores interações foram de atores alinhados ao bolsonarismo e publicações do próprio presidente Jair Bolsonaro. 

As interações são métricas que consideram os números de reações, comentários e compartilhamentos para avaliar o sucesso ou não das publicações nas redes sociais. Já as visualizações medem quantas pessoas visualizaram o conteúdo em seu feed ou na página da publicação, mesmo que não tenham reagido a ele. 

Em relação às interações, destacam-se as páginas de Carla Zambelli, que aparece com três dentre as dez postagens com maior engajamento, gerando cerca de 180 mil interações, e de Eduardo Bolsonaro com duas postagens somando um engajamento de mais de 140 mil cliques. 

Apenas uma publicação crítica a Bolsonaro aparece entre as com maior interação. Trata-se de uma postagem do “Brasil de Fato” repercutindo uma projeção surgida em Nova Iorque criticando o atual presidente da República.

No que se refere às visualizações no Facebook, duas páginas do grupo UOL – UOL e UOL Notícias – se destacaram com mais de 700 mil visualizações cada no período analisado. Nas posições seguintes temos quatro páginas bolsonaristas: “Bolsonaro TV”, “Bolsonaro Presidente 2022”, “Folha Política” e “Notícias do Brasil”, todas com mais de 520 mil visualizações (gráfico 1). Na sétima posição, temos a página da BBC Brasil, sucursal brasileira da empresa britânica, que acompanhou todos os movimentos do cortejo fúnebre de Elizabeth II. Em seguida, temos mais três páginas alinhadas com o Bolsonarismo: “Apoiadores do Dr. Serginho”, “Professor Paschoal” e a “Jovem Pan News”. 

Portanto, dentre as dez páginas do Facebook que tiveram maior número de visualizações, sete delas possuem publicações favoráveis a Bolsonaro, somando quase três milhões de visualizações, enquanto as demais páginas possuem quase 1,9 milhão de visualizações. Essas outras três páginas são de empresas de comunicação tradicionais, fornecendo informações de caráter jornalístico e, portanto, de natureza distinta das demais.

Nesse sentido, podemos perceber que o Bolsonarismo dominou a narrativa dentro do Facebook, superando inclusive conteúdo noticioso sobre a morte da rainha e a Assembleia da ONU.

Ao olharmos para a repercussão da viagem nas  páginas do Instagram, percebemos que a cobertura sobre a presença de Bolsonaro no enterro da Rainha e na Assembleia da ONU, pelo menos no top dez de interações, também ficou  desequilibrada, com quatro páginas com postagens pró-Bolsonaro ou alinhadas com o presidente (gráfico 2). Carla Zambelli destaca-se mais uma vez com duas postagens dentre as com maiores níveis de engajamento, gerando 600 mil interações. Porém, foi possível identificar uma grande repercussão de perfis noticiosos, como a Folha de São Paulo. Além disso,  aparecem outros canais, como a Mídia Ninja, identificada com o campo do lulismo.

Quando avaliamos as páginas com maior número de visualizações no Instagram, notamos um equilíbrio maior entre as páginas bolsonaristas e as contrárias ao presidente (gráfico 3). Entre as páginas com conteúdos favoráveis ao atual presidente da República temos um total de quatro: Portal R7, Jornal da Record, Eduardo Bolsonaro e Jovem Pan News. As quatro páginas juntas somam mais de 3,5 milhões de visualizações, quantidade superior à soma das seis páginas não bolsonaristas (3,3 milhões). Entretanto, podemos perceber que essa distância não é tão discrepante quanto era no Facebook, demonstrando que existe uma disputa pela narrativa no Instagram entre as principais páginas no topo.

As duas publicações das páginas da Record (Jornal da Record e Portal R7) são as que possuem o maior número de visualizações no período, mais de 1,46 milhões de visualizações. As duas veiculam o mesmo vídeo, uma reprodução da passagem de Bolsonaro pela Inglaterra e um grupo de apoiadores ovacionando o atual presidente. Apenas como comparação, a terceira posição é do jornal O Povo com mais de 500 mil visualizações com um vídeo sobre a publicação de Bolsonaro comparando a gasolina no Brasil e na Inglaterra.

O Twitter mostra um pouco mais de equilíbrio entre os campos bolsonarista e lulista, reforçando a ideia de que o campo lulista tem ganhado força nessa mídia social (gráfico 4). Os três tweets com maior número de interações sobre o tema durante o período analisado dizem respeito a críticas a Jair Bolsonaro durante a viagem. Ao mesmo tempo, quatros contas de apoiadores de Bolsonaro aparecem com maior número de interações: os candidatos Jouberth Souza e Nikolas Ferreira, o comentarista Rodrigo Constantino e o jornalista Kim D. Paim. Os perfis oficiais de Lula e Jair Bolsonaro aparecem também entre os com mais engajamento.

Já a análise feita no Youtube mostra que grande parte dos canais com maiores índices de interação estão ligados ao campo bolsonarista, como é o caso do  “Os Pingos nos Is”, por exemplo,  que aparece com três vídeos publicados entre os mais vistos, somando quase quatro milhões de interações. Isso reforça a ideia de que há o predomínio de canais bolsonaristas nesta plataforma. 

 

No entanto, chama atenção o grande número de interações no vídeo divulgado pelo  canal do Lula (gráfico 5). Trata-se do vídeo “Conheça Bolsonaro”, que foi transmitido na televisão durante o horário  eleitoral gratuito. Dessa forma, percebe-se que, apesar de ser um ambiente com grande atuação bolsonarista, o perfil do Lula parece ter conseguido, ao menos nesse caso, atrair um grande público e furar sua bolha. O fato do vídeo ter sido divulgado durante o horário eleitoral também pode ter ajudado a conseguir esse grande número de interações.

De forma geral,  podemos perceber que a passagem de Bolsonaro pela Inglaterra e também pela Assembleia da ONU teve repercussões distintas, variando a partir de cada plataforma. Foi possível perceber um domínio da narrativa bolsonarista no Facebook e, com um pouco menos de frente, no Instagram. Apesar da esquerda conseguir emplacar alguns perfis e postagens específicos no período analisado, a direita bolsonarista conseguiu manter a narrativa mais próxima a sua perspectiva nas duas redes. 

Por outro lado, a disputa entre os campos parece ter sido mais equilibrada no Twitter, com tweets mais críticos à viagem do presidente, alcançando um maior número de engajamento. Já  a análise Youtube mostra o predomínio de perfis bolsonaristas entre os vídeos mais publicados, porém as interações desses vídeos não conseguem alcançar o engajamento do vídeo “Conheça Bolsonaro” do canal do Lula.

A análise reforça, mais uma vez, que o uso das mídias sociais por atores políticos pode dar resultados distintos de acordo com cada plataforma. Se, durante muito tempo, a direita e o bolsonarismo dominaram o campo digital, os dados recentes mostram uma tendência de crescimento do campo lulista em alguns desses espaços, como é o caso do Twitter e, em certa medida, do Instagram. Dessa forma, ao olhar para ações políticas no campo digital, como é o caso da campanha eleitoral, é preciso estar atento às especificidades de cada plataforma, levando em conta suas affordances e potencialidades e como elas podem impactar seus usuários. Cada mídia social tem propósitos e formatos específicos, e consequentemente, perfis distintos de usuários.  As equipes que gerenciam essas campanhas parecem conhecer as plataformas e as utilizam de forma específica para seus objetivos.

 

Maria Alice S. Ferreira é doutora e mestra em Ciência Política pela UFMG. Pesquisadora em estágio pós-doutoral no INCT IDDC.

Rachel Callai Bragatto é jornalista, mestre e doutora em Sociologia pela UFPR. Foi visiting researcher na University of California – Los Angeles. Pesquisadora em estágio pós-doutoral no INCT/IDDC. Interessada em temas como democracia digital, participação política e cibercultura. 

 

Eduardo Barbabela é doutor e mestre em Ciência Política pelo IESP UERJ. Atualmente é pesquisador do Manchetômetro (LEMEP IESP-UERJ) e do INCT/IDDC. Realiza pesquisas nos campos de representação política, comunicação política, teoria democrática, liberdade de expressão e comportamento político.

Francisco Kerche é Analista de dados do Greenpeace – BR e mestrando no programa de pós-graduação em sociologia e antropologia. Com ênfase em sociologia digital, métodos digitais e ciências sociais computacionais.

 

Na reta final das eleições, deep fakes e a reação da imprensa

Na reta final das eleições, deep fakes e a reação da imprensa

 Marisa von Bülow, Eliara Santana e Thayla Souza

Publicado no GGN

O fundamental é entender que esse vídeo é parte de uma estratégia coordenada de construção de um caos informacional

Na semana que passou, a viralização do trecho de uma reportagem do Jornal Nacional com dados recentes da pesquisa Ipec causou grande furor e aumentou ainda mais a tensão eleitoral da reta final. A reportagem mostrava, pela voz do âncora William Bonner, que o candidato Jair Bolsonaro estava à frente do candidato Lula. Mas o vídeo era falso, e as vozes dos apresentadores Bonner e Renata Vasconcellos haviam sido adulteradas para apresentar dados falsos da também falsa pesquisa eleitoral. O potencial de estrago em termos de desinformação era grande, mas parece que os efeitos foram contrários – o vídeo gerou fortes reações negativas de amplos setores políticos e da imprensa.

 

Há polêmica se o vídeo é mesmo um exemplo de deep fake ou se seria apenas shallow fake (uma versão menos sofisticada), mas, no fundo, isso não é o importante. O fundamental é entender que esse vídeo é parte de uma estratégia coordenada de construção de um caos informacional, que tem no anonimato e na capilaridade das redes sociais seus principais trunfos, e que vai ser ainda mais agressiva à medida que chegamos perto do dia da eleição.

 

Para entender melhor qual foi o impacto da repercussão do vídeo, fizemos uma análise do debate sobre le no Twitter, entre os dias 19 e 20 de setembro. Devido à presença dos principais atores do mundo da política e da mídia, o Twitter é uma plataforma que permite tomar o pulso dos debates e das narrativas utilizadas. E também dos silêncios.

Apesar de os internautas no Twitter terem marcado as contas do presidente Bolsonaro e de seus filhos em várias das mensagens da nossa base, nosso monitoramento mostra que não houve uma participação expressiva desses atores no debate. A conta oficial de Carlos Bolsonaro no Twitter, por exemplo, não publicou comentários sobre o tema (até o momento de fechamento deste artigo). No dia 20 de setembro, Flávio Bolsonaro bateu na tecla da fraude nas pesquisas, tuitando:

O ex-presidiário não enche um botequim, mas para o DataFolha e o Ibope (Ipec) o ladrão está liderando em todos os cenários.

A verdadeira pesquisa é o DATAPOVO! Essa não falhou em 2018 e não vai falhar em 2022!!

1º turno!!!! https://t.co/saI2w3kV7Z

 

Por outro lado, alguns defensores do presidente e candidato se mobilizaram publicando respostas na página do Jornal Nacional no Twitter. Duas foram as narrativas mais comuns. A primeira buscou atacar a credibilidade da Rede Globo de forma geral, sem entrar no mérito do caso específico: Deepfake é o que a Globo demonstra todos os dias, não precisam adulterar nada, tuitou um apoiador do presidente. A segunda narrativa buscou aprofundar ainda mais o clima de desconfiança ao jogar as suspeitas da autoria do vídeo para os apoiadores ou para a própria campanha de Lula.

 

A imprensa contra-ataca

O debate no Twitter foi dominado por mensagens críticas à desinformação, vinculando a deep fake diretamente à campanha bolsonarista. O grafo apresentado abaixo traz a visualização do comportamento dos atores, a partir do reencaminhamento de mensagens entre eles. Os maiores nós e de cor mais forte são aqueles responsáveis pelas postagens de maior disseminação na plataforma.

 

As cinco contas que tiveram suas mensagens mais reencaminhadas na rede são todas de jornalistas ou de organizações da mídia. O maior cluster se organiza em torno à conta do próprio Jornal Nacional, graças à ampla repercussão da publicação do vídeo desmentindo a deep fake, reencaminhada mais de 7 mil vezes. No dia 19 de setembro, o Jornal Nacional trouxe uma nota/matéria de mais de dois minutos que apontou o dedo e identificou a principal estratégia do bolsonarismo: a produção reiterada de fake news. Na matéria, William Bonner e Renata Vasconcellos enfatizaram que o vídeo fake que estava circulando tinha o objetivo claro de desinformar os eleitores e que era uma arma nova na guerra travada na internet nestas eleições. Foi de fato uma reação bem forte, que marcou um importante posicionamento do jornal, que não mediu palavras para apontar os responsáveis e ligar a produção de fake news a Jair Bolsonaro.

A publicação da resposta do Jornal Nacional repercutiu em destaque pelos usuários, sendo o conteúdo de maior replicação na plataforma durante o período monitorado. Outros atores da imprensa também foram centrais na rede mapeada, como as contas da Revista Fórum, do Intercept e de jornalistas como Vera Magalhães e Leandro Demori.

De forma geral, esses atores foram altamente críticos ao uso de estratégias de desinformação e mostraram preocupação com os possíveis impactos desse tipo de iniciativa. O tom das mensagens foi de alerta e preocupação com a integridade do processo eleitoral. A @revistaforum (438,1 mil seguidores) associou diretamente a utilização de deepfake à estratégia da campanha de Jair Bolsonaro, inclusive utilizando a expressão “fraude bolsonarista”. Segundo o site WFS News, que faz o monitoramento dos temas em destaque no Twitter (os chamados trending topics), a publicação da Revista Fórum, que aparece no nosso grafo, foi uma das mais populares.

Rede de Retuítes sobre a Deep Fake do Jornal Nacional (19 e 20 de setembro)

 

 

De fato, nem a escolha do conteúdo (o foco em pesquisas eleitorais) e nem dos atores (os âncoras do Jornal Nacional) foram aleatórias. O objetivo central da estratégia do caos informacional é semear desconfiança com relação ao processo eleitoral como um todo, seja lançando dúvidas sobre a lisura dos institutos de pesquisa, seja questionando a confiabilidade das urnas, da imprensa ou das autoridades eleitorais. Não importa tanto se os interlocutores acreditam ou não piamente no conteúdo encaminhado, contanto que se consiga semear a dúvida e causar controvérsia. Também não importa se o conteúdo é coerente com outras mensagens. Importa menos o teor, e mais o sentido político da mensagem. Paradoxalmente, a deep fake que se utilizou do Jornal Nacional é perfeitamente compatível com mensagens que questionam a lisura dos principais institutos de pesquisa e da Rede Globo. 

O que seria extremamente positivo e saudável – sem questionamento e crítica não há debate democrático – transforma-se em uma manipulação perversa, que dá margem não só ao crescimento da desconfiança, mas também à apatia política. Se o processo é corrompido, por que votar? E em quem, afinal, podemos acreditar?

Nota metodológica: A coleta de dados foi realizada entre os dias 19 e 20 de setembro de 2022. Foram coletadas publicações contendo o termo “deep fake” (e variações) em associação com o Jornal Nacional e seus respectivos âncoras. A extração das publicações se deu por meio da API oficial do Twitter. A base de dados contém 30.936 entradas, entre postagens únicas (1.267) e replicações de conteúdos sobre o tema.

Gamers: um público em disputa pelas principais campanhas à Presidência em 2022

Gamers: um público em disputa pelas principais campanhas à Presidência em 2022

João Victor Ferreira

Publicado Midia Ninja

Há um grupo específico que entrou no radar da disputa entre os presidenciáveis que lideram as intenções de voto para a corrida eleitoral de 2022 e que talvez você não tenha percebido. As campanhas tanto de Lula quanto de Bolsonaro tem direcionado a produção de conteúdo para conversar diretamente com jovens gamers apaixonados pela cultura pop.

Gamers é uma forma típica de denominar pessoas que encontram em jogos eletrônicos espaços de entretenimento associado ao lúdico. Mas os gamers também são pessoas que se juntam para a construção de comunidades, majoritariamente online, em vista de fomentar sociabilidades, identidades e preferências.

Você já reparou na construção da campanha visual de Jair Bolsonaro nas mídias digitais? Veja que o candidato se utiliza da estética de jogos de videogame dos anos 2000 para recriar um ar de heroísmo, aventura e descontração. As fontes parecem ter sido extraídas de um jogo de arcade e os pixels demonstram que o presidente busca se comunicar para além de sua fiel bolha e com um público bem específico.

Outros dados também mostram a afinidade da campanha de Bolsonaro com jovens gamers. No dia mundial dos games, celebrado em 29 de agosto, a “motociata virtual” em prol de sua candidatura no jogo Forza Horizon reuniu milhares de jogadores. O próprio candidato postou o vídeo em suas redes sociais. 

Essa relação, no entanto, não é nova. Na crista da onda do movimento reacionário antipetista, entre os anos de 2014 e 2016, jovens encontraram na Internet grande poder para mobilizar e visibilizar suas pautas e insatisfações com conteúdo antissistema. O processo de gamificação do ativismo contribuiu para a disseminação da ideia de que o então deputado federal seria a única alternativa possível para a promoção da mudança que era esperada em 2018. Veja um exemplo de jogo criado para a campanha daquele ano, no qual Bolsonaro era o personagem principal responsável por “caçar” petistas e “salvar o Brasil”.

Não é à toa, portanto, que o bolsonarismo cria e repercute estéticas voltadas ao público jovem. Além disso, durante o seu governo, Bolsonaro (i) promoveu a criação de uma frente parlamentar em prol dos gamers e dos jogos eletrônicos; (ii) reduziu quatro vezes, uma em cada ano de governo, os impostos sobre jogos e consoles eletrônicos; e (iii) destinou verbas da secretaria de Cultura para o fomento de e-sports.

Manter o apoio desse público é crucial para a sobrevivência do bolsonarismo. Afinal, nesses espaços são encontrados jovens ativistas que, com muita expertise, são capazes de influenciar outros eleitores a partir da mobilização de elementos e referências da cultura gamer, geek e pop. De certa forma, nesse público encontramos os primeiros apoiadores, aqueles que enxergaram nos recortes de vídeos ofensivos de Bolsonaro uma oportunidade de evidenciar suas ideologias e preconceitos através do conteúdo popular de “mitificar” o Bolsonaro com o turn down for what (veja um exemplo aqui). 

Mas se, por um lado, a campanha de Bolsonaro engajou para tentar manter a base de apoio, o seu principal adversário na corrida presidencial também identificou a importância de contemplar pautas do público jovem. 

A campanha de Lula buscou diálogo com representantes gamers e da indústria de jogos eletrônicos e anunciou o Lula Play, projeto que apresenta princípios e propostas para políticas públicas no setor de videogames e entretenimento eletrônico no Brasil.

O candidato do PT não só se mostrou aberto a receber representantes do setor, mas também apresentou propostas progressistas inéditas para o desenvolvimento tecnológico e cultural do país através de videogames.

Para se comunicar, a estratégia de marketing de Lula também utiliza de elementos da cultura gamer e pop com a finalidade de traçar maior aproximação com o público jovem. Grande exemplo são as figurinhas de Whatsapp inspiradas em super-heróis e videogames, como Super Mario Bros.

O projeto Lulaverso, que nasceu de ativistas e hoje é coordenado por agência de marketing, também tem como função trazer elementos que aproximem os jovens brasileiros para a campanha de Lula. Na plataforma estão disponíveis materiais especialmente produzidos para o compartilhamento em massa e para estreitar a conexão com amantes da cultura pop. Veja o Lula de Os Simpsons:

As duas campanhas estão, portanto, engajadas em dialogar e conquistar jovens gamers, cientes de que seu impacto nas mídias sociais não pode ser menosprezado. Há, contudo, uma contraposição elementar nas estratégias: enquanto Bolsonaro se vale de jogos que apelam para violência física e verbal para promover sua imagem de “herói”, a campanha de Lula busca trazer afinidades a partir de referências descontraídas e amplamente populares da cultura pop.

Caberão análises futuras para investigar o real impacto das investidas na formação de opinião do público gamer. Fato é que a disputa segue para conquistar estrategicamente bases de apoio entre os jovens que são direcionados a consumir política de forma restrita e pela Internet.

João Victor Ferreira é Mestrando em Ciência Política na Universidade de Brasília e estuda participação política do público jovem na Internet.